O Alibaba anunciou hoje a compra da Ele.me, uma startup chinesa de entrega de comida, numa transação que parece ser só o aperitivo para um banquete muito mais promissor: os serviços online-to-offline, aqueles que são pedidos pela internet e executados no mundo físico.

A gigante do ecommerce já tinha 43% da Ele.me — que significa algo como “Com fome ainda?” em mandarim — e vai comprar a totalidade das ações. O negócio avaliou a startup em US$ 9,5 bilhões incluindo dívida.

“O delivery de comida é um dos apps mais utilizados e o ponto de entrada mais importante no setor de serviços local”, disse o CEO da Alibaba, Daniel Zhang, num email interno obtido pela Bloomberg. “Uma rede vasta e multidimensional formada a partir do serviço de entrega de comida vai ser uma parte essencial da infraestrutura de comércio.”

O setor já está meio crowded. A Didi Chuxing, o Uber chinês, também quer entrar no delivery, um setor que movimentou cerca de US$ 38 bilhões ano passado na China, replicando o serviço Eats da rival americana, segundo a imprensa chinesa.

Tem mais: o interesse do Alibaba e da Didi vem num momento em que a Meituan, a líder no setor de delivery chinês, planeja seu IPO em Hong Kong, mirando um valuation de US$ 60 bilhões a US$ 80 bilhões — uma das estreias mais promissoras de uma startup em Bolsa.

A Meituan — investida da Tencent, a maior rival da Alibaba — é uma espécie de ‘Amazon dos serviços’.

O delivery de comida, que entrega mais de 20 milhões de refeições por dia e conta com um exército de meio milhão de motoboys, é o carro-chefe e representa a maior parte do negócio da Meituan.

Mas a companhia oferece a seus 320 milhões de usuários — o equivalente à população dos Estados Unidos — uma gama de serviços que vai de pedidos de restaurantes a manicures, passando por serviços de limpeza, encomendas de supermercados, pacotes de viagens e ingressos de cinema.

Um de seus serviços mais demandados dá a medida do tipo de comodidade ao alcance de poucos cliques: o usuário pode encomendar a lavagem do carro que estacionou na rua enquanto resolve outros problemas. A pessoa encarregada do serviço manda uma foto do veículo pelo app para provar que o serviço foi concluído.

A Meituan nasceu em 2010 como uma empresa de compras coletivas, praticamente uma cópia do Groupon, mas vem diversificando sua gama de serviços. Ganhou corpo em 2015, quando se fundiu com a Dianping, que oferecia o delivery e um aplicativo de reviews de restaurantes similar ao Yelp, num negócio que avaliou as companhias em US$ 15 bilhões. Recentemente, a Meituan entrou até na onda de aplicativos de táxis e caronas, rivalizando com a Didi.

“Parece que estamos fazendo um monte de coisas, mas na verdade estamos fazendo apenas uma,” o fundador da Meituan, Wang Xing, disse ao The Information, um site por assinatura focado em tecnologia.  “Você pode comprar um monte de coisas da Amazon ou do Alibaba, mas eles são apenas plataformas de ecommerce para produtos físicos. A Meituan é uma plataforma de ecommerce para serviços”.

Numa rara entrevista concedida a um veículo ocidental, o chinês de 39 anos — que fundou duas redes sociais antes de acertar o passo com a Meituan — disse: “Todas as categorias verticais compartilham a mesma base de usuários. Quem quer comer fora, pedir comida, assistir filmes, viajar ou alugar um carro? A mesma base de consumidores.”

A Meituan transacionou US$ 57 bilhões no ano passado — o chamado GMV —, gerando uma receita de US$ 5,4 bilhões, mais que o dobro do registrado em 2016. Na última rodada de investimentos, em outubro, a companhia foi avaliada em US$ 30 bilhões, tornando-se a quarta startup mais valiosa do mundo, atrás do Uber, da Didi e da Xiaomi, a fabricante de smartphones.

Além da Tencent, a Priceline, líder mundial em reservas de hotéis e pacotes de viagens online, está entre os principais investidores da Meituan. Outros investidores incluem o Sequoia, Hillhouse Capital, Fidelity General Atlantic e Tiger Global. O fundador mantém pouco mais de 10% do capital.

Com os US$ 4 bilhões captados na última rodada de captação, a Meituan tem cerca de US$ 7 bilhões em caixa, segundo o The Information. A fome pelo setor de serviços é grande — e os recursos disponíveis para matá-la também.