A Aliansce Sonae parece estar fazendo progresso na construção de uma coalizão de investidores que aprove sua proposta de fusão com a BR Malls.

Na sexta-feira, depois do fechamento, a Aliansce comunicou à BR Malls que já comprou mais de 5% do capital da empresa na Bolsa. Esta é a primeira vez que a Aliansce declara uma posição na BR Malls. As compras começaram logo que a proposta de fusão se tornou pública.

No final de janeiro, o CPP Investments, que é acionista da Aliansce, havia anunciado uma posição de 5,7% – mas aquela posição consolidada já incluía quase 4% que a própria Aliansce havia comprado diretamente, e não especificava o que pertencia a quem.  Hoje, pessoas próximas ao canadense estimam que a CPP tenha cerca de 2,5% da BR Malls.

Pedindo que seus nomes não sejam revelados, duas outras gestoras que têm juntas 7,5% da BR Malls disseram ao Brazil Journal no fim de semana que pretendem aprovar a transação – mas uma delas disse esperar que a Aliansce aumente o preço.

Além destas, a Oceana Investimentos disse numa carta mensal recente que tem 4,5% da BR Malls – sua maior posição no setor – e pretende votar a favor de um M&A envolvendo a companhia. “Não sabemos ainda com quem, quando e em que condições, mas estruturalmente a Oceana vê com bons olhos que a noiva se case,” escreveu a gestora de Leonardo Messer.

Com as últimas manifestações, a posição dos acionistas simpáticos à Aliansce (ou a alguma forma de mudança na BR Malls) está próxima à dos três acionistas de referência da companhia  – Squadra, VELT e Atmos – que juntas detêm 20,2% da BR Malls, salvo mudanças ainda não reportadas.

Em princípio, este tamanho da posição já permitiria à Aliansce convocar uma assembleia de acionistas para colocar a fusão em votação ou – se estiver insegura a respeito da aprovação da proposta – pelo menos alterar a composição do conselho da BR Malls.

Uma pessoa próxima à BR Malls disse que o fato da ação da companhia ter subido 24% desde que a proposta foi anunciada “mostra o quanto aqueles valores estavam inadequados” – ainda que alta do papel esteja ligada justamente à existência de uma oferta, e à expectativa do mercado de que outras propostas possam surgir.

Para essa fonte, “uma nova proposta teria que já partir do

patamar atual do valor da ação e ainda considerar um prêmio de controle, já que a proposta se trata no fundo de uma compra e não de uma fusão de iguais.”

Desde que a proposta da Aliansce foi anunciada, a ação da BR Malls subiu 24% e a da Aliansce, 17% – sinalizando que o mercado acredita que o deal gera valor para ambos os lados.

Mas a Aliansce muito provavelmente terá que adoçar a oferta para aprová-la sem grandes traumas.

Levando em conta a parte em cash e a relação de troca proposta, o preço da BR Malls hoje indica que mercado espera que a Aliansce aumente a oferta original em 8%.

Analistas que participaram de uma reunião com o management da BR Malls na sexta-feira à tarde sentiram uma mudança de tom. Se antes o management se mostrava completamente refratário à ideia de uma fusão, o CEO Ruy Kameyama disse que “consolidação gera valor, como a nossa própria história aqui mostra,” segundo um dos cerca de 20 investidores presentes.

Ruy disse que a conversão de vendas para NOI da BR Malls é “superior à dos outros portfólios no mercado,” e que não vê essa qualidade refletida na proposta feita pela Aliansce, segundo outro investidor presente.

E, num comentário sobre o setor de shoppings global mas aplicável à própria empresa, o CEO disse ver “muita sinergia de receita num portfólio maior,” uma referência ao poder de barganha dos shoppings com um varejo que também está se consolidando.