Para chegar ao Brasil, a Alexa foi tropicalizada.
A assistente de voz da Amazon faz piada, imita o Silvio Santos e fala não só português, mas também uma espécie de ‘inglês brasileiro’, incluindo ‘ismartifône’ (smartphone), ‘uai-fái’ (wifi) e ‘Aéroismiti’ (Aerosmith) — assim mesmo, com o sotaque todo carregado nas vogais.
Três semanas depois de anunciar o Prime, a Amazon está lançando a Alexa no País. Começa hoje a pré-venda de dois modelos do Amazon Echo, o dispositivo que já vem com a Alexa embutida (a assistente de voz é o ‘cérebro’, enquanto o Echo é o ‘corpo’ ou seja, as caixas de som controladas inteiramente por voz).
O preço começa em R$ 349, com desconto de R$ 100 na pré-venda. Um terceiro modelo chegará em novembro.
Desde dezembro, funcionários da Amazon e pessoas selecionadas em todas as regiões do Brasil começaram a usar — e ensinar — o dispositivo de inteligência artificial.
“A ideia é que a Alexa sempre se comunique de uma forma natural e não como se fosse um robô que apenas responde aos comandos”, diz Ricardo Garrido, o gerente-geral de Alexa para o Brasil.
A aclimatação começou pelas peculiaridades do português.
Em inglês, ‘play’ funciona para vários comandos: música, jogos, filmes. No Brasil, há um verbo para cada uma dessas atividades: tocar música, assistir filme, jogar jogo.
Outro desafio foram as inúmeras inversões sintáticas, que permitem diversas construções para uma mesma frase, o que não acontece no inglês: “O Palmeiras joga quando?” pode virar “Quando joga o Palmeiras?” ou até “O Palmeiras quando joga?”.
O maior desafio, no entanto, foi dar personalidade à Alexa.
Seu tom de voz é mais informal. “Na França e no Japão, as pessoas preferem que a conversa seja mais séria”, diz Garrido. “Aqui, a Alexa te trata como um amigo”.
Um time brasileiro buscou referências culturais e embutiu a Alexa de experiências. Sua cantora favorita é a Rita Lee. Um comando de “Toca Raul” dá início a uma playlist de Raul Seixas e ela sabe cantar o hino dos principais times do Brasil — ainda que prefira não entrar em rivalidades. Quando perguntada para que time torce, ela desvia e diz que torce pela seleção brasileira.
A Amazon está expandindo a Alexa em todo o mundo. Até 2017, funcionava apenas nos Estados Unidos, Inglaterra, Japão e Alemanha, mas no último ano e meio chegou também a países como Índia, Austrália, Nova Zelândia, Espanha e México.
Em todo mundo, o principal uso da Alexa é para ouvir música — além do Amazon Music, a ferramenta está ligada a serviços como Spotify e Deezer — mas ela permite inúmeras de tarefas por voz, como fazer chamadas, programar o despertador, fazer perguntas, consultar o calendário e até fazer compras.
Clientes da Amazon Prime podem dizer “Alexa, coloque determinado produto no meu carrinho” e o dispositivo encontra um produto entregue com Prime e aplica o desconto disponível. Toda a transação pode ser feita usando apenas a voz.
A Alexa deve acelerar ainda a tendência das ‘casas inteligentes’ — permitindo, por exemplo, trancar a porta antes de dormir ou diminuir as luzes direto do sofá usando apenas a voz. A assistente funciona com uma variedade de produtos compatíveis com wi-fi, incluindo lâmpadas, câmeras, tomadas e fechaduras, de marcas como Philips e Positivo (que está apostando fortemente na ‘Internet das Coisas’).
Depois de escândalos de privacidade envolvendo empresas de tecnologia, a Amazon reforça que a Alexa não fica bisbilhotando o tempo inteiro — e só tem acesso ao que é dito depois que é acionada pelo comando de voz. Os clientes podem ver e deletar gravações de voz associados à sua conta no aplicativo da Alexa ou no site da Amazon.
Ainda assim, a empresa reconhece que precisa de gente de carne e osso para ‘treinar’ a tecnologia.
“Uma fração menor que 1% do que é dito passa por um humano que grava e ajuda entender, que é o que retroalimenta a tecnologia”, diz Michele Butti, o diretor de expansão internacional da Alexa. “Mas é importante dizer que é um processo totalmente anônimo”.