O Pogust Goodhead — o escritório de advocacia que lidera as class actions contra a BHP em Londres e contra a Vale na Holanda — enfrenta uma situação financeira tão complicada quanto suas ações na Justiça.

O escritório britânico publicou esta semana seu balanço de 2022 — pela lei inglesa, com um atraso de 18 meses — e seu auditor disse que existe uma “incerteza material que pode lançar uma dúvida significativa sobre a capacidade da empresa de continuar operando.”

Os números foram publicados pela The Law Society Gazette, uma revista semanal britânica voltada para advogados. 

Tom GoodheadNo balanço, o Pogust Goodhead reportou uma receita recorde de £ 53 milhões, em grande parte por conta de um acordo na class action que a firma liderou contra a Volkswagen no caso que ficou conhecido como Dieselgate.

Mas o escritório teve um prejuízo antes dos impostos de £ 292 milhões.

Já as dívidas de curto prazo somavam £ 522 milhões, mais que dobrando em 12 meses. 

Os números de 2023 deveriam ter sido publicados em setembro, mas ainda não são públicos. 

O auditor independente – cujo relatório é assinado por Geoff Wightwick, da MHA – disse que o Pogust precisa de um funding adicional para conseguir arcar com suas obrigações que vencem nos próximos 12 meses. 

“Embora as negociações para esse funding adicional estejam em curso, no momento da aprovação dessas demonstrações financeiras nenhum acordo formal havia sido assinado,” escreveu o auditor. 

Outro tema que chamou a atenção do The Law Society Gazette foi um empréstimo de £ 4,2 milhões que o Pogust Goodhead fez em 2021 a seu fundador, Tom Goodhead. Esse valor nunca foi pago de volta por Goodhead, e no balanço de 2022 o escritório fez um write-off do empréstimo. 

Um porta-voz do Pogust disse ao The Law Society que “nosso negócio é construído em cima da força do nosso portfólio de casos, e não em ciclos financeiros tradicionais.”

“Nosso portfólio crescente de ativos de litígio de alto valor garante uma forte fundação para a geração de receitas de longo prazo. A confiança dos investidores no nosso portfólio de ações judiciais continua a crescer.”

O porta-voz disse ainda que prejuízos operacionais de curto prazo são esperados, dado que o escritório investe em casos que geram “retornos futuros substanciais.” 

“O litígio em grupo funciona com cronogramas de longo prazo, assim como o nosso funding. Nossa próxima rodada de funding está sendo finalizada com um financiador que já está na nossa base, por conta de sua contínua confiança em nossos casos. Dado todo o apoio já demonstrado, esperamos que o financiamento seja concluído em linha com nossas expectativas,” no segundo trimestre deste ano.

Além das class actions contra BHP/Vale e contra a Volkswagen, o Pogust Goodhead tem mais de 20 outras ações coletivas, incluindo um processo na Holanda contra a Braskem pelo desastre de Maceió; uma ação na Alemanha contra a TÜV SÜD – que certificou as barragens da Vale em Brumadinho; e um processo no Reino Unido contra a Cutrale, a gigante da citricultura brasileira, por acusação de formação de cartel.

O processo contra a BHP/Vale, envolvendo o rompimento da barragem de Mariana em 2015, é disparado o maior deles.

O Pogust Goodhead reuniu mais de 600 mil pessoas afetadas pelo desastre e pediu uma indenização total de £ 36 bilhões. Os honorários do escritório giram em torno de 20% a 30% do valor das causas. 

Depois de diversas reviravoltas, o julgamento em Londres foi concluído no mês passado, e a expectativa é que a sentença do juiz saia já nos próximos meses, entre junho e julho.