O mercado está mega excitado com a possibilidade da megafusão da Anheuser-Busch Inbev (ABI) com a SABMiller, mas o analista Carlos Laboy, com quase 20 anos de experiência cobrindo o setor, está botando água no chopp.
Num relatório divulgado aos clientes do HSBC esta manhã, Laboy diz que, desta vez, a ABI está abordando a SAB “a partir de uma posição de fraqueza, com problemas em seus principais mercados.” Os problemas incluem a depreciação das moedas em diversos mercados emergentes onde a ABI opera, a estagnação do mercado de cervejas nos EUA e o crescimento das ‘craft beers’.
“Ao contrário de ofertas anteriores, acreditamos que o grupo de controle da ABI entra nesta com maiores riscos de não atingir o alvo e com um potencial de ganho incerto caso o negócio se concretize,” diz Laboy.
Ele estabelece um preço-alvo de 111 sólares para as ações da ABI, que hoje negociam a 114 na Bolsa de Nova York.
O analista também diz que “o papel da Coca-Cola na fusão não deve ser subestimado, e a fusão que a SABMiller propôs à Heineken no ano passado precisa ser mantida em mente.” (Na grande ‘escolha de Sofia’ desta operação, a SABMiller é engarrafadora da Coca-Cola em vários mercados, e a ABI, da Pepsi. A empresa resultante da fusão muito provavelmente terá que escolher um parceiro e abandonar o outro. Pra piorar as coisas, em novembro de 2014, a SAB, a Coca-Cola e a SABCO, engarrafadora da Coca na África do Sul, anunciaram a criação de uma empresa para consolidar os engarrafadores na África. Esta operação, que deve ser concluída antes do final deste ano, aproximou a SAB e a Coca ainda mais.)
Laboy acrescenta que a SAB teve pelo menos um ano para criar defesas contra uma oferta hostil, e lembra uma frase de Graham Mackay, o lendário CEO (já falecido) que transformou a SABMiller no que é hoje.
“Sim, a ABI pode algum dia tentar comprar todos nós e, se eles vierem aqui, meu trabalho é garantir que vamos ter colocado nos bolsos de nossos acionistas cada centavo de valor que puder existir, antes da ABI tentar colocá-lo no bolso dos seus acionistas,” Mackay disse a investidores em 2013.
Para a ABI, que tem um histórico de transações sem soluços (e que se mostraram ‘baratas’ com o tempo), desta vez pode ser diferente.