Todos os anos, a China produz um exército de 6 milhões de graduados nas chamadas carreiras STEM: ciência, tecnologia, engenharia e matemática. Os Estados Unidos formam um décimo disso: 600 mil. E o Brasil, só 170 mil, segundo um sócio da Sequoia, um dos maiores fundos de VC do mundo. 

11098 27463cd6 c23a 4578 dcab 5228e3d47a3fOs números variam de acordo com a fonte, mas a ordem de grandeza (e a conclusão) é a mesma em todas as comparações: faltam programadores e cientistas de dados no Brasil — um País que ainda discute como levar esgoto a toda a população.

Para fechar o gap, Matheus Goyas fundou a Trybe, uma escola online em que os alunos pagam pelo curso só depois de conseguirem algum emprego na área que remunere mais de R$ 3,5 mil por mês. 

A Trybe oferece um desconto considerável para quem pagar à vista, mas hoje 85% dos 460 alunos da startup estão no modelo de pagamento diferido, que a Trybe chama de “sucesso compartilhado”. 

Para formatar o curso, Matheus falou com todo mundo no ecossistema: do Google ao Facebook, passando por startups como o Nubank. Depois de entender o que as companhias esperam de um programador, criou uma metodologia proprietária que foca nas demandas do mercado. (Um dos senior advisers na formulação do currículo foi Nelson Mattos, ex-vp do Google para Europa e mercados emergentes).

“O retrato do mercado de trabalho brasileiro — em termos de formação de profissionais — ainda é o mesmo de 50 anos atrás,” Matheus disse ao Brazil Journal. “Para piorar: estudos mostram que o Brasil vai aumentar o déficit de desenvolvedores em 70 mil por ano nos próximos cinco anos — e isso, sem considerar a fuga de talentos.”

A Trybe só tem um ano de vida e já levantou US$ 15,7 milhões. Os investidores incluem José Galló, o ex-CEO da Renner, e fundos como Canary, E.Bricks, Atlântico, Global Founders Capital, Joá Investimentos (do apresentador Luciano Huck) e Maya Capital. Armínio Fraga foi investidor-anjo. 

Parte do capital levantado foi para comprar a Codenation, uma startup que ajuda a acelerar a carreira de profissionais de TI fazendo a ponte com grandes empresas. 

A Trybe já tinha um programa de recrutamento, chamado ‘hiring partners club’, em parceria com 30 empresas como Localiza, Loft, Ambev e Tembici. Com a compra da Codenation, adicionou outras 100 companhias ao programa e ganhou expertise em aceleração de carreira.

“Um dos pontos cruciais para o sucesso da Trybe é conseguir empregar nossos alunos,” diz o fundador. 

Por enquanto, a Trybe está construindo um book de recebíveis que vai começar a performar a partir da formatura da primeira turma de alunos, em setembro deste ano. Matheus explica que alguns alunos da primeira turma já conseguiram emprego e começaram a pagar a dívida, mas o grosso vai começar a pagar só após a formatura. 

O plano da Trybe é crescer de forma gradativa e conforme a startup tenha condições de suportar novos alunos “sem prejudicar a qualidade dos cursos”. Matheus espera chegar a 700 alunos este ano e a 3 mil no fim de 2021. 

No último processo seletivo, para formar a sétima turma da escola, a Trybe teve mais de 7 mil inscritos e aprovou apenas 130 — uma taxa de aprovação de apenas 2%.

Matheus já fundou uma startup antes — e acabou na Nasdaq (sort of).

Em 2012, ele criou o AppProva, uma edtech de preparação para exames que chegou a ter mais de 2 milhões de alunos, atendendo mil escolas particulares.

Cinco anos depois, vendeu o negócio para a Somos Educação e virou executivo da empresa (mais tarde, a Somos foi vendida para a Cogna e foi o embrião da Vasta, que acaba de fazer um IPO na Nasdaq).

Matheus fundou a Trybe junto com seus antigos sócios da AppProva: João Duarte, Rafael Torres e Marcos Moura. Os quatro estudaram juntos no Colégio Santo Antônio, em Belo Horizonte, e sempre trabalharam com educação. Antes do AppProva, montaram uma escola de tutoria quando Matheus tinha apenas 17 anos. O outro sócio é Claudio Lensing, que Matheus conheceu na Somos.

Matheus diz que a Trybe é o negócio de sua vida — e que não pensa em repetir o desfecho da AppProva, vendendo a startup para um grande grupo de educação.

“Esse negócio é pra 20, 30 anos.”