Quando fez seu IPO no final de 2021, a SmartFit planejava abrir 240 lojas por ano e chegar num EBITDA de R$ 1,1 bilhão já no ano seguinte.
Mas a pandemia se alongou, frustrando as metas da rede de academias fundada por Edgard Corona em 2009.
O EBITDA de 2022 – que será reportado em março – deve fechar entre R$ 500 milhões e R$ 600 milhões, com a rede abrindo apenas 130 lojas. Ambas as métricas são cerca de metade do que a empresa havia prometido.
Mas agora, depois de sua ação cair mais de 50%, a SmartFit pode estar à beira de um ponto de inflexão.
“Esse vai ser o primeiro ano pós-IPO que vamos ver a empresa operando em temperatura normal,” disse um gestor comprado no papel. “Nossa expectativa é que haja uma normalização gradual ao longo do ano, com a margem EBITDA voltando ao nível histórico.”
Com sua ação hoje ao redor de R$ 15 – comparado aos R$ 23 do IPO e aos R$ 32 do all time high – a SmartFit negocia a cerca de 18x o lucro e 9x o EBITDA estimados para este ano.
“Não acho algo super barato,” disse um analista do sellside. “Mas quando eu vejo a compressão do múltiplo nos próximos anos pelo aumento do EBITDA, parece bem mais interessante. Quando você compara com peers globais, ela também está com desconto.”
Redes europeias como a Basic-Fit e MyGym, por exemplo, negociam entre 10x e 12x o EBITDA – com um crescimento potencial menor que o da SmartFit. Já a americana PlanetFit negocia a cerca de 20x, mas seu modelo de negócio é diferente. (A PlanetFit é um negócio de franquias, com parte relevante da receita vindo da venda dos equipamentos para os franqueados.)
No ano passado, a SmartFit sofreu especialmente com a ômicron, que deu as caras exatamente nos meses de janeiro e fevereiro – os mais importantes para a companhia.
“O Natal das academias é nestes dois meses, que é quando tem o maior fluxo de novas matrículas,” disse o gestor. “Eles tinham colocado muita grana em marketing para esse período, mas a ômicron atrapalhou tudo. Isso é um problema que eles tiveram que carregar pro resto do ano.”
A pandemia afetou especialmente um indicador fundamental para o modelo de negócios: o número de alunos por academia. No pré-covid, a SmartFit operava com cerca de 3,5 mil alunos matriculados por cada academia. De lá pra cá, esse número despencou para 2,6 mil.
Essa menor produtividade derrubou a margem EBITDA no tatame. Analistas estimam que a SmartFit tenha fechado 2022 com uma margem ao redor de 20%, comparado a uma margem histórica de 27% a 30%.
Agora, a normalização da economia deve ajudar tanto no aumento das matrículas quanto no preço da mensalidade, na visão dos comprados.
A companhia reajusta seus preços periodicamente, mas os aumentos demoram para atingir toda a base, já que os clientes antigos têm o plano reajustado de 12 em 12 meses. “Houve um processo inflacionário muito grande nos últimos anos, e tem esse lag nos reajustes que deve começar a fechar agora,” disse o gestor.
Um analista que cobre a empresa também acredita que as margens devem voltar ao normal este ano, já que além dos ajustes de preço a SmartFit fez vários cortes de custos na operação.
“Mesmo que o número de alunos por academia continue menor, eles já devem voltar a uma margem parecida ao pré-pandemia só por conta desses ganhos de eficiência,” disse ele.
Nas contas deste analista, a SmartFit deve fechar este ano com uma margem EBITDA de 30%, um pouco acima da margem de 2019 (28%).
Investidores mais céticos com a tese temem que tenha ocorrido uma mudança estrutural no setor – com a base de alunos por academia nunca mais voltando ao que foi no passado. O argumento deles é que esse número estava inflado porque a empresa estava fazendo muito esforço comercial.
Os céticos também acham que, no médio e longo prazos, esse nível de margem não deve ser sustentável porque o aumento dos preços pode acabar minando a acessibilidade das academias da SmartFit – justamente um de seus grandes diferenciais.
Fundada em 2009, a SmartFit foi a primeira rede do Brasil a adotar um modelo conhecido como ‘high value, low price’. Em outras palavras: academias com bons equipamentos e infraestrutura, mas cobrando uma mensalidade acessível.
O objetivo desta equação é atingir uma relação de alunos por academia muito alta, tornando os retornos atrativos mesmo com o baixo preço.
Com essa estratégia, a SmartFit executou uma expansão agressiva na última década, chegando a mais de 1.100 academias (metade fora do Brasil) e se consolidando como a líder absoluta do País. O segundo player desse segmento, a Bluefit, tem pouco mais de 100 academias.
Apesar da escala relevante, a SmartFit ainda tem um mercado potencial significativo. A penetração das academias na população brasileira é de menos de 8%, enquanto em mercados maduros ela ultrapassa os 20%.
“Tem muito espaço, a empresa pode triplicar só com o aumento dessa penetração,” disse o gestor.
Para outro analista, o maior risco para a tese é a execução. Afinal, boa parte da geração de valor virá da capacidade do management de abrir mais academias, com retornos que sejam equivalentes ou maiores que os da base atual.
“Quando ela abre uma nova loja tem sempre o risco de não vir demanda ou dela canibalizar uma loja já existente,” disse.