A SL Tools — que começou a construir um marketplace para o aluguel de ações há dois anos — vai expandir sua plataforma também para ativos de renda fixa, começando pelos títulos públicos e entrando depois em crédito corporativo.
Para financiar a expansão, que inclui planos de rodar a plataforma em blockchain, a startup de André Duvivier acaba de levantar uma rodada de seed money com a 2TM, que controla o Mercado Bitcoin, e a Parallax, uma gestora de VC focada em fintechs.
André, um ex-trader da Merrill Lynch, fundou a SL Tools incomodado com a ineficiência do aluguel de ações — um mercado onde boa parte das transações ainda são feitas por telefone ou email.
A fintech digitalizou todo o processo, levando eficiência às duas pontas. Hoje, a SL Tools já tem 80 gestoras e oito corretoras usando a plataforma, incluindo as maiores do mercado.
No marketplace para ativos de renda fixa, os investidores poderão negociar títulos públicos e privados no mercado secundário.
(Para ficar claro, a B3 já possui uma plataforma eletrônica tanto para o aluguel de ações quanto para a negociação de ativos de renda fixa, mas a Bolsa nunca priorizou o investimento nas plataformas, que acabaram não ganhando tração entre os investidores).
A SL Tools espera lançar a plataforma de títulos públicos até o final de janeiro. A de crédito corporativo, que demanda uma licença específica da CVM, deve sair até julho.
André diz que o investimento da 2TM é estratégico porque a empresa é uma das poucas no Brasil com expertise em blockchain, ativos digitais e tokenização — tecnologias que devem ter aplicações relevantes para o mercado financeiro tradicional.
No futuro, um dos planos da SL Tools é rodar o marketplace de renda fixa com a tecnologia blockchain, o que eliminaria a necessidade de uma clearing, reduzindo custos para todo o sistema.
Assim que a CVM permitir, a SL Tools pretende transformar os títulos públicos e privados em tokens, que passarão a ser negociados com uma clearing descentralizada — o blockchain, que fará toda a liquidação eletrônica. (Não será possível tokenizar o estoque de dívida já emitida, apenas as novas emissões).
O blockchain “vai gerar uma redução de custos importante, porque é caro operar na Cetip, e também um benefício para todo o mercado,” André disse ao Brazil Journal. “Hoje, os bancos têm que ter um backoffice gigantesco para liquidar tudo isso, dá muito trabalho… Com o blockchain, isso não será mais necessário.”
Para a 2TM, o investimento na SL Tools segue uma lógica semelhante.
A dona do Mercado Bitcoin está tentando se aproximar do mercado regulado, apostando na tese de que o mercado financeiro e tecnologias como blockchain e tokenização estarão cada vez mais entrelaçados.
“O blockchain vai mudar toda a infraestrutura do mercado financeiro. Ele vai se tornar a nova infraestrutura do mercado, principalmente para essa nova economia digital,” disse o CEO da 2TM, Roberto Dagnoni. “Acreditamos na ‘tokenization of everything’, tanto de ativos que já têm liquidez quanto de novos ativos que não tinham tanta liquidez antes, como a arte digital.”
A SL Tools é o terceiro investimento da 2TM dentro dessa estratégia. Há alguns meses, ela comprou a Parmais, uma gestora de fundos com cerca de R$ 600 milhões em ativos, e fez um investimento minoritário na FIDD, uma DTVM que também presta serviços de administração e custódia.
Roberto diz que outras aquisições ou investimentos com esse mesmo perfil devem ser anunciados nos próximos meses, já que essa é uma das “frentes prioritárias da empresa dentro da estratégia de M&As.”
Após a rodada, Fabio Dutra, o gestor da Parallax e um ex-executivo da B3, passará a ocupar uma cadeira no conselho da SL Tools. A Parallax também é investidora da 2TM.