A troca de comando que se avizinha no Planalto é uma oportunidade única para o Brasil se unir e enfrentar, com tranquilidade, a tarefa de reconstruir a economia depois de uma pandemia de consequências devastadoras.
Há muito o País sofre com o caos patrocinado pela família do atual Presidente, uma fonte inesgotável de tensão destrutiva que só aumenta a incerteza e prejudica quem trabalha — tudo a pretexto de uma “luta contra a corrupção” que, sabe-se agora, era mais narrativa do que realidade.
Em pouco mais de um ano, o Governo Bolsonaro desacreditou instituições como o Itamaraty e o Ministério da Educação, confundiu Estado com família, ameaçou nossas relações comerciais e obstaculizou o combate à pandemia, entre outras façanhas hostis a um projeto decente de País.
Agora, a “denúncia premiada” do ex-Ministro da Justiça nos oferece a chance de um novo começo, uma oportunidade de trocar a entropia pela tranquilidade dentro da mais absoluta ordem constitucional.
Desde a campanha eleitoral, por onde passou, o General Hamilton Mourão demonstrou ser um homem de ideias próprias e cultura abrangente. Já seria um belo contraste e um ótimo começo, mas tem mais. Ao longo do Governo, por diversas vezes o General quatro estrelas se distanciou das maluquices do Presidente e sua família, pontuando que ele não fazia parte do circo.
Com Mourão instalado no Governo, o País poderá se unir. Com o fim da narrativa do ’nós contra eles’, as pessoas de bem poderão contribuir com o País sem o pavor de ser dragadas pela ideologia ou ter sua biografia associada a um Governo imprevisível.
O Brasil se dá bem em transições assim. Depois do trauma de Collor, Itamar Franco uniu a sociedade e produziu o Plano Real, que derrotou um inimigo anteriormente imbatível. Michel Temer, a despeito de seu passado fisiológico, trocou a feitiçaria econômica por uma equipe de primeira linha; o Brasil avançou na sanidade fiscal e amadureceu a reforma da Previdência. Ambos os vices hoje são lembrados com um sorriso no rosto por qualquer brasileiro que não beba ideologia no café da manhã.
O adeus a Jair Bolsonaro poderá acontecer via impeachment — dada a abundância de motivos — ou renúncia.
Com a experiência de dois presidentes removidos pelo Parlamento — se este for, mais uma vez, o único caminho disponível agora — o Brasil tem tudo para conduzir a próxima troca de comando com tranquilidade. O importante é que ela aconteça mais cedo do que mais tarde.
O consenso, que já se desenhava, consolidou-se hoje. A pandemia e suas consequências econômicas são agravante e motivo suficientes para que o Legislativo e o Judiciário cumpram seus papeis com celeridade.
A renúncia seria uma via ainda mais célere e menos dolorosa — mas, para isso, o atual Presidente precisaria demonstrar aquele patriotismo de verdade, e não apenas o de sua retórica nas redes sociais.
As comparações com governos anteriores que apodreceram antes mesmo da metade do mandato são inescapáveis. A economia em frangalhos, os panelaços nas metrópoles, e apenas uma pequena (ainda que barulhenta) seita que ainda se recusava, pelo menos até hoje, a reconhecer o quadro geral.
O Brasil quer trabalhar. Quer deixar para trás o barulho que nada constrói. Cansamos de ser essa grande briga no Whatsapp. Essa briga patética, incentivada por um Presidente que fez de tudo para antecipar seu próprio fim.