O maior legado de Rogério Jonas Zylbersztajn não foram os mais de 1 milhão de metros quadrados que sua RJZ Engenharia lançou no Rio de Janeiro, e sim a unanimidade que construiu sobre o ser humano que ele próprio era.
Rogerinho, como era conhecido, morreu ontem, aparentemente tirando sua própria vida depois de uma luta contra a depressão. Ele tinha 58 anos.
Interrompida precocemente, sua carreira empresarial foi tão breve quanto prolífica.
Filho de pai comerciante, Rogerinho estudou engenharia civil na Universidade Santa Úrsula e fundou a RJZ em 1985. Seus primeiros edifícios foram obras por administração na zona norte, Recreio e Barra da Tijuca, nas quais teve como clientes amigos de seu pai.
Depois, migrou para a zona sul, com imóveis de médio e alto padrão, e avançou, com prédios maiores, para Botafogo e pelo subúrbio. Quando o boom imobiliário tomou conta do País, levou a Cyrela a comprar terrenos gigantescos na Barra, Jacarepaguá e Recreio, lançando empreendimentos com mais de 10 torres residenciais cada.
Desde cedo, revelou um talento comercial inato para comprar terrenos — não importava a complexidade — e fazer parcerias, frequentemente ficando amigo das pessoas com quem fazia negócio.
“Ele se fez sozinho num mercado onde vários outros incorporadores da comunidade judaica não chegaram tão longe,” diz um conhecido de longa data.
Ao longo de toda sua vida, teve como amigo inseparável seu maior concorrente no mercado de incorporação do Rio, Rogério Chor. “Concorrência mais leal era impossível,” definiu um amigo de ambos. Rogerinho foi padrinho de casamento de Chor.
Em 2006, depois de cinco anos de parcerias com Elie Horn, Rogerinho vendeu a RJZ para a Cyrela, tornando-se sócio e membro do conselho da empresa. A marca RJZ era tão forte que a Cyrela decidiu mantê-la no Rio.
Desde garoto já era uma liderança. Com 20 e poucos anos, foi diretor de juventude da Hebraica, na época o grande clube dos judeus, com sede em Laranjeiras, onde destacou-se pelo carisma e era admirado por todas as gerações.
Quando foi presidente do conselho da Federação Israelita do Rio de Janeiro, Flávio Stanger buscava os conselhos de Rogerinho, que havia ocupado o mesmo cargo anos antes.
“Ele foi meu grande confidente, meu grande advisor,” diz Stanger. “Na Federação tem muita crise, às vezes tem briga, esquerda, direita, fora os ataques anti-semitas. E ele sempre foi um cara muito sensato, muito tranquilo, sempre buscou a conversa, sempre buscou a negociação, que é o que o fez dele um grande empresário. Sempre buscava a paz, o respeito às minorias, sempre buscava uma palavra para fazer duas pessoas que estavam em litigância chegar a um acordo.”
Intensamente privado, Rogerinho frequentava a sinagoga Beith Lubávitch, no Leblon, bairro onde morava. Ajudava o Lar da Esperança, que alimenta pessoas carentes na Tijuca, e inúmeras sinagogas, escolas e centros culturais.
“Ele não dizia ‘não’, mas nunca fez propaganda disso, e ajudava não só com dinheiro mas também com seu tempo para estruturar projetos,” disse Arnon Velmovitsky, o presidente da Federação Israelita do Estado do Rio.
A morte de Rogério priva a Cyrela de um empreendedor insubstituível em seu segundo maior mercado.
Em junho, Zylbersztajn assinou com o Clube de Regatas do Flamengo a escritura definitiva do empreendimento residencial Morro da Viúva, no Aterro do Flamengo. O velho prédio, que a RJZ comprou do clube, será retrofitado, dando aos futuros moradores a vista sem paralelos da Baía da Guanabara. Ironicamente, o lançamento do projeto foi hoje.
Nos últimos anos, Rogerinho também se envolveu com o projeto de um Memorial do Holocausto no Rio, que está começando a sair do papel. Michel Gottlieb, seu braço direito, será o diretor financeiro do Memorial.
Flamenguista fanático, costumava levar o pai, Marcos, para assistir aos jogos no Maracanã.
Filho único, Rogerinho nunca casou nem teve filhos. Deixa a mãe, Rachel, e um número notável de amigos.
Elie Horn e seu filho Raphael compareceram ao enterro, que ocorreu nesta tarde ensolarada no Cemitério Israelita Vila Rosali.