É impossível falar da Unike sem antes conhecer a trajetória de superação de seu fundador.

André Barretto já era um empreendedor de sucesso em 2007 quando o monomotor em que viajava com seus dois sócios caiu em Salvador logo após a decolagem

Todos a bordo morreram — menos André.

André Barretto

“Na época, eu fui dado como morto, saiu uma notícia no Jornal Hoje dizendo que eu tinha morrido,” o sobrevivente disse ao Brazil Journal.

O programador teve três paradas cardiorrespiratórias e chegou a ficar 12 minutos sem nenhum batimento cardíaco. Quebrou o fêmur, a tíbia, o perônio, todas as costelas, e teve uma fratura no pescoço.

Três meses depois, quando acordou do coma, André recebeu a notícia: havia perdido o movimento do pescoço para baixo. 

Cinco anos de fisioterapia e 37 cirurgias depois, conseguiu recuperar 100% da mobilidade e se curar dos traumas do acidente — mas os reflexos desses anos moldaram sua vida. 

Pouco depois do acidente, o baiano de Salvador se desligou de sua empresa — uma consultoria estratégica — e se mudou para São Paulo.  Estava desempregado, solteiro, e pronto para recomeçar do zero.

“Eu vi o acidente como um recado de que eu tinha que mudar minha vida, recomeçar… Na minha cabeça, eu tinha que me afastar da minha empresa, daquele local, e das pessoas que me lembravam do acidente.”

A Unike — sua startup atual — só veio em 2019, depois que André já havia fundado outras cinco empresas, duas delas ligadas à tecnologia de biometria.

A Unike usa a autenticação biométrica para melhorar a experiência do usuário – e não apenas para evitar fraudes, que era o principal caso de uso da tecnologia até agora. 

“Imagina o ambiente de balada, show, o bar em que as pessoas vão consumir. Em muitos desses lugares as pessoas tem que mostrar a identidade ou um cartão de consumo, uma ficha. Isso causa um atrito enorme na jornada,” disse o fundador.

A solução da Unike para essa situação: colocar a tecnologia de biometria numa câmera RTD que fica atrás do bar. Em 2019, a startup lançou outra tecnologia, a Unike Shop, que levava essa mesma experiência para o varejo físico.

Mas aí…. veio a pandemia, e o rumo do negócio teve que mudar completamente. 

“A Unike teve que renascer de novo. Por isso eu digo que ela tem muito a ver com a minha história pessoal,” disse o fundador.

Durante a covid, a Unike passou a focar seus esforços comerciais em empresas de logística, como a DHL e o Mercado Livre, ajudando essas empresas a ganhar produtividade. 

No CD de uma delas, por exemplo, mais de 6.500 pessoas trabalham todos os dias – e perdiam 1h30 nas filas para entrar e sair do galpão.

“Reduzimos esse tempo de entrada para 14 minutos, o que gerou uma economia de R$ 15 milhões só em hora extra, além de aumentar a produtividade dos funcionários,” disse André. 

A Unike opera no modelo de SaaS, e faturou R$ 11 milhões no ano passado. Neste ano, a expectativa é dobrar essa receita. Segundo André, a empresa espera chegar a um annual recurring revenue (ARR) de R$ 100 milhões num prazo de dois anos. 

Até agora, André e seus dois co-fundadores têm 100% do capital da empresa, que nunca fez uma rodada. A Unike já opera no breakeven desde o ano passado e hoje tem R$ 5 milhões em caixa. 

“Fizemos um projeto totalmente bootstrap, gerador de caixa e com um crescimento gigantesco. E isso tudo com 40 pessoas,” disse André, o empreendedor que renasceu duas vezes e nunca vai ter medo de recomeçar.