A HIG Capital pagou R$ 836 milhões pela quase totalidade do capital da Nadir Figueiredo, a icônica fabricante do Copo Americano e das travessas Marinex.

A transação transfere o controle da empresa de 107 anos das mãos da terceira e quarta gerações dos Figueiredo para uma gestora de private equity especializada em encontrar oportunidades no middle market — empresas que tipicamente faturam entre R$ 100 milhões e R$ 1 bilhão.

A família vendeu 97,67% do capital para a HIG, que agora terá que fazer uma oferta aos minoritários.  A Nadir Figueiredo era listada na Bolsa desde os anos 70, ainda que o papel mal negociasse.

Com uma só fábrica em Suzano e R$ 1,1 bi de faturamento, a Nadir Figueiredo é a maior fabricante de glassware da América Latina e uma das maiores do mundo, com produtos que vão do vidro de azeitona ao requeijão, do copo em que o brasileiro toma sua média na padaria da esquina até taças de vinho.

O investimento não é um caso de turnaround.  A Nadir Figueiredo é uma empresa redonda, bem administrada, que cresce seu faturamento há pelo menos 20 anos, e nos últimos quatro cresceu mais que o mercado.  Segundo a Nielsen, ela tem mais de 60% do mercado de glassware, que inclui copos, pratos e travessas.

Há alguns anos, a Nadir aproveitou a saída da Owens-Illinois do Brasil para aumentar seu market share.  (A multinacional americana continua produzindo garrafas de vidro para a indústria de bebidas no Brasil.)  Em 2011, com a aquisição da Vidraria Santa Marina, que pertencia à Saint-Gobain, a Nadir colocou em seu portfólio as marcas Marinex, Duralex e Colorex.

É difícil pensar num produto mais ‘old fashioned’ e ‘low tech’ que o vidro, mas sua aplicação está ganhando força num mundo cada vez mais preocupado com o dano ambiental das embalagens de plástico. O mercado brasileiro de glassware cresce 6% ao ano nos últimos 20 anos, segundo dados da Abividro.

Agora, sob a gestão de um fundo global, a companhia terá a oportunidade de olhar mais para fora do País, tanto em termos de M&A quanto do aumento das exportações.

Hoje, apesar de exportar para 67 países, mais de 80% da receita da Nadir Figueiredo vem do mercado doméstico.

Nadir Dias de Figueiredo fundou em 1912 a companhia que levaria seu nome como uma oficina para máquinas de escrever em São Paulo. Seus dois irmãos se juntaram ao negócio nos anos seguintes, até que, em 1935, a companhia adquiriu a primeira fábrica manual de vidros no bairro do Belém, em São Paulo. A produção automática  de copos e garrafas começou em 1946, na fábrica de Vila Maria. 

No ano seguinte, a Nadir lançou o Copo Americano, um ícone que permanece até hoje. 

Esta é a segunda transação em que a HIG segue o mesmo roteiro: encontra empresas com faturamento beirando R$ 1 bilhão, listadas na Bolsa, mas sem liquidez alguma.

No ano passado, a gestora comprou a Elekeiroz, uma indústria química controlada pela Itaúsa que produz ácido sulfúrico, oxo-álcoois, plastificantes, anidridos ftálicos e maleicos (não me pergunte o que é nada disso). Desde que assumiu a companhia, a HIG tem redirecionado a linha de plastificantes da cadeia de petróleo para uma linha verde, os chamados bioplastificantes. 

A HIG opera no Brasil há sete anos.  Em 2016, levantou um fundo de US$ 740 milhões — então o maior veículo para uma gestora de primeira viagem — que já investiu 60% do capital.

O sócio da HIG no Brasil, Fernando Marques Oliveira, começou sua carreira no Icatu e mais tarde montou o escritório da General Atlantic no País, onde fez os investimentos na Qualicorp e na Linx, ambos pré-IPO.

Com uma estratégia agnóstica — evitando se limitar a temas ou estruturações específicas — a HIG tem achado oportunidades em setores adormecidos, onde há menos concorrência.

A gestora tem um portfólio de mais de 30 empresas, incluindo o curso de inglês CEL LEP;  a Mr. Cat, varejista de calçados com mais de 200 lojas; e a Selfit, uma academia de baixo custo que é mais forte que a SmartFit na região Nordeste; e a Eletromídia, a maior empresa de publicidade ‘out of home’ independente do Brasil, que opera nos trens da CPTM e na Linha 4 do Metrô de São Paulo, entre outros.
  
Na venda da Nadir, a Fortezza Partners assessorou os vendedores.