Cinco anos atrás, a Gerdau começou a olhar para o mercado de grafeno como um movimento defensivo. 

Na época, acreditava-se que o material – descoberto apenas 13 anos antes – poderia ser usado para fazer ligas leves que substituiriam o aço, ameaçando o ganha-pão da siderúrgica.

Depois de estudar a fundo o assunto, a gigante gaúcha percebeu que o risco de ‘disrupção’ era muito baixo, mas que o grafeno poderia ser usado para turbinar diversos produtos adjacentes a seu negócio, como tintas, concreto e plástico.

221524B3 09A3 4EBC 8665 87CD38D8672FAssim nasceu a Gerdau Graphene, com o objetivo de desenvolver e comercializar produtos com grafeno em sua composição. 

Agora, a Graphene acaba de fechar a maior parceria comercial de sua curta história de dois anos: um contrato com a Sumitomo para a distribuição de plásticos aditivados com grafeno no mercado japonês.

O produto que a Graphene vai vender no Japão é uma combinação do chamado masterbatch (bolinhas de plástico concentrado que, depois de derretidas, moldam o plástico que a gente vê nas embalagens de shampoo, por exemplo) com um composto químico de grafeno. 

Ao acrescentar 0,5% de grafeno nesta mistura, é possível reduzir em 30% a quantidade de plástico usada.

“Isso gera uma economia no custo final do produto porque você produz um material mais fino,” o CEO da Graphene, Alexandre Corrêa, disse ao Brazil Journal. 

Além disso, há um ganho de produtividade. 

As indústrias derretem o masterbatch para colocar no molde e fabricar o produto final. “Como o grafeno é um ótimo condutor térmico, percebemos que ele gera um ganho de produtividade de 7% a 8%, porque ele faz com que se chegue mais rápido no calor que precisa para derreter o plástico.”

Alexandre disse que isso é extremamente relevante na indústria de transformação porque as máquinas são muito caras. Ou seja, o capex para elevar a capacidade produtiva é alto. 

Há ainda um benefício de branding para as empresas. Num momento em que o tema sustentabilidade tem ganhado cada vez mais importância, poder dizer ao consumidor que sua embalagem usa 30% menos plástico é um atrativo para muitas companhias. 

A Graphene decidiu começar pelo Japão porque “o mercado de plásticos lá é 1,5x maior que o do Brasil, e eles são muito mais abertos para pagar pela tecnologia,” disse Alexandre. Além disso, “a parceria com a Sumitomo abre as portas para a Ásia, que consome mais da metade de todo o plástico do mundo.”

Para se ter uma ideia, o Brasil consome 8 milhões de toneladas de plástico por ano, enquanto o Japão consome 12 milhões. Já a Ásia como um todo consome 203 milhões de toneladas de um mercado global de 391 milhões de toneladas.

Alexandre disse que a Sumitomo – um zaibatsu com negócios no ramo industrial, de infraestrutura e de real estate – será o maior cliente individual da Graphene, comprando os plásticos com grafeno para algumas de suas empresas e distribuindo os produtos em sua trading.

Além dos produtos de plástico, a Graphene também já desenvolveu uma tinta aditivada com grafeno, e está usando o material junto com cimento e água para fazer um concreto mais resistente. Ela também usa o grafeno na fabricação de lubrificantes e borrachas, além de vender o material misturado com um composto químico para empresas que queiram desenvolver seus próprios produtos com grafeno.

Descoberto em 2004 por dois cientistas depois reconhecidos com o Prêmio Nobel, o grafeno já está sendo utilizado em 55 diferentes aplicações no mundo – incluindo para aumentar a capacidade das baterias de lítio e para melhorar a fabricação de hélices de avião.

Alexandre disse que a Graphene decidiu focar nesses quatro segmentos porque eles têm aplicações comerciais mais massificadas, o que facilita o desenvolvimento do mercado. 

A companhia está atuando numa etapa da cadeia em que ainda há muito pouca concorrência (mesmo globalmente).

“Antes, havia os fabricantes de grafeno de um lado, e as indústrias de vários setores de outro. Só que essas indústrias não queriam investir em novas máquinas para fabricar com grafeno. Entramos nesse buraco de mercado e tomamos a frente nisso,” disse o CEO. 

Segundo ele, não faz sentido para a Gerdau verticalizar a produção neste momento, com a construção de fábricas de grafeno, dada a baixa escala do negócio. Mas conforme o negócio for crescendo, esse pode ser o caminho.