BELÉM – O financiamento climático global só ganhará escala se houver mais recursos públicos para atrair o investimento privado.
A declaração é de André Corrêa do Lago, o presidente da COP30, em resposta a uma pergunta do Brazil Journal sobre a presença empresarial na conferência.
Segundo Corrêa do Lago, o papel do setor privado é crescente mas insuficiente para preencher sozinho o déficit de financiamento. Ele citou um relatório do G20, de 2023, segundo o qual cada dólar aplicado por bancos multilaterais de desenvolvimento mobiliza, em média, apenas US$ 0,60 em capital privado.

“Esse número é muito preocupante. Precisamos de mais dinheiro público, mas também de muito mais recursos privados – e isso só virá com confiança e a convicção de que os projetos e programas realmente se traduzam em negócios para o setor privado,” disse.
O diplomata destacou que a presença empresarial na COP30 é essencial para transformar compromissos climáticos em oportunidades econômicas, mas alertou que o avanço do capital privado “não pode ser entendido como substituição do dinheiro público”.
“São papéis complementares. O investimento público é o que cria as condições para que o privado venha depois, em escala,” disse ele.
Corrêa do Lago mencionou ainda as “plataformas nacionais” que alguns países estão adotando para coordenar projetos e tornar-se mais atraentes ao capital privado, com regras claras de governança e retorno.
A visão foi reforçada pelo presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, que comparou o momento atual com o início da indústria de papel e celulose no Brasil, nas décadas passadas.
“Lá atrás, ninguém acreditava em plantar eucalipto, e hoje o Brasil tem 30% das reservas de eucalipto do mundo e a maior empresa global do setor. Tudo isso aconteceu com a participação ativa do BNDES,” disse.

Segundo ele, o País vive agora “um novo ciclo de expansão muito rápida,” impulsionado pela entrada de grandes investidores privados na economia verde. Mas “as empresas que investem na economia verde não querem o balanço no vermelho, elas fazem conta e analisam muito bem como vão se desenvolver”.
Mercadante também destacou a melhora da percepção internacional sobre o Brasil. Ele lembrou que, há alguns anos, o País tentou emitir títulos sustentáveis, mas o mercado reagiu com desconfiança.
“Na semana passada, o Ministério da Fazenda colocou US$ 2,5 bilhões em green bonds. Houve sete vezes mais demanda que a oferta, e as taxas vieram lá embaixo. O mercado leu: Brasil grau de investimento,” disse Mercadante.
Para o presidente do BNDES, o resultado mostra que há liquidez, interesse e credibilidade crescentes, e que a COP30 tende a potencializar este movimento. “Temos de perder o complexo de vira-lata e liderar esse processo,” concluiu.
Para Corrêa do Lago, o objetivo final é integrar o clima ao centro da economia global. “Se todo investimento considerar o impacto climático, teremos muito mais que US$ 1,3 trilhão em financiamento. Mas é um caminho que precisa ser construído juntos: governos, bancos e empresas.”






