A revista High Times – uma espécie de ‘Time’ do mundo da cannabis – acaba de ser vendida por US$ 250 milhões, numa operação que resultará na sua listagem na Nasdaq e ilustra a grande jornada do setor da mais completa ilegalidade para um novo eldorado de investidores.

Esta é a segunda vez que a High Times troca de mãos em apenas dois meses. No começo de junho, um consórcio liderado pela firma de venture capital Oreva Capital, e que conta com o filho de Bob Marley, Damian Marley, como investidor, comprou 60% das ações numa operação que avaliou a revista em US$ 70 milhões.

O interesse não era necessariamente nas vendas da revista – publicada desde 1974 e com 336 mil assinantes –, mas na força e no potencial de diversificação da marca, especialmente no momento em que mais Estados vêm liberando o uso recreacional da erva.

A High Times já promove eventos, como o Cannabis Cup, uma feira que reúne produtores e interessados desde 1988 em Amsterdã e que elege a melhor variedade da planta.

“Para mim, a High Times é a Coca-Cola da indústria da maconha”, disse na ocasião o CEO da Oreva, Adam Levin, ao Business Insider. “Somos uma marca reconhecida para uma base que cresce dia-a-dia e para uma audiência que está evoluindo do estereótipo do ‘doidão’ para o consumidor mais convencional”.

O bagulho parece mesmo ser forte. Agora, menos de dois meses após ter entrado na empresa, a Oreva multiplicou seu investimento por quase quatro, ao anunciar a fusão com o fundo Origo.

A Origo é uma ‘special purpose acquisition company’ (SPAC), veículos de investimento comuns no mercado americano mas inexistentes no Brasil.  As SPACs são empresas listadas que levantam uma espécie de cheque em branco dos investidores para perseguir aquisições – sem necessariamente dizer qual será o alvo.

A operação anunciada hoje, e reportada com exclusividade pela Reuters, é uma combinação de negócios: a Origo vai adquirir 100% da High Times por US$ 250 milhões numa troca de ações. Ao final da transação, High Times será uma empresa listada, e seus atuais controladores ficarão com 83% da companhia resultante.

Listada desde 2014 na Nasdaq como CB Pharma, a Origo mudou de nome em junho do ano passado e já tinha algo em comum com quem usa a cannabis: não teve a menor pressa. Desde o ano passado, a SPAC vinha pedindo ‘waivers’ aos acionistas e à SEC por não ter atingido seu propósito declarado de comprar alguém.

A transação anunciada hoje permitirá que a Origo participe de um mercado em crescimento, mas sem o risco jurídico associado às empresas que lidam diretamente com a produção ou comercialização de maconha.

Apesar do uso recreacional da maconha já ser sido legalizado em oito Estados americanos, a legislação federal ainda proíbe o consumo, o que ainda afasta os investidores mais caretas.

A maconha e seus produtos derivados movimentaram US$ 6,7 bilhões em 2016 nos EUA, e o mercado cresceu uma taxa anual de 27%, segundo a Reuters, citando dados da Arcview Group, uma firma de investimento e pesquisa focada na erva. A expectativa é que o faturamento supere os US$ 22 bilhões em 2021 – numa conta que pode chegar a US$ 50 bilhões caso haja a (hoje improvável) legalização nacional.

Hoje, 28 Estados americanos permitem o uso medicinal da maconha, e 60% da população americana apoiam a legalização do uso recreativo, um nível de aprovação recorde.

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