As bolsas chinesas, que haviam caído ao seu nível mais baixo em cinco anos, começaram um rali poderoso desde que o governo apresentou uma série de medidas para incentivar a economia.
Coisas do capitalismo de estado.
Para Louis-Vincent Gave, o CEO da consultoria Gavekal, Beijing está incentivando a alta no mercado acionário para recuperar a confiança doméstica e entregar um maior crescimento do PIB – ao contrário do passado, quando despejava dinheiro na economia e colhia como efeito colateral a valorização acionária.
“O bull market não seria o efeito da política – ele é a política,” escreveu Gave em uma nota aos clientes publicada hoje.
Segundo ele, isso explica por que algumas das primeiras medidas tenham sido os novos instrumentos para facilitar a recompra de ações pelas companhias.
“Parece que as autoridades chinesas simplesmente decidiram incentivar o mercado acionário no que seria uma aposta para arrumar as finanças dos millennials e recuperar confiança,” disse Gave.
Se sua análise estiver correta – e Gave acompanha a China de perto há mais de uma década – Pequim não deixará de criar novos incentivos até que alcance três resultados: alta da inflação (“sem sinal disso ainda”); enfraquecimento da moeda local (“por enquanto, o renminbi tem se mantido estável”); e um bull market até que as ações atinjam “valuations absurdos e/ou a especulação se torne demasiada.”
No entanto, Gave acha que o novo ciclo de alta deverá ser diferente dos anteriores.
Antes, o governo chinês aumentava os gastos em infraestrutura e era possível capturar valor comprando empresas como Vale, BHP, Rio Tinto, LVMH ou Hermès – e sem “sujar as mãos na China.”
“Bastava comprar as mineradoras da Austrália e do Brasil, as marcas de luxo da França e da Itália, ou os fabricantes de carros da Alemanha,” comentou.
Mas desta vez, o boom não terá como alvo criar empregos, o que no passado significava investir em concreto e aço. “Deverá ser destinado a consertar os balanços das pessoas e das empresas. Inflar o preço do minério ou importar mais bolsas Louis Vuitton não contribui para esse objetivo,” diz o analista.
Para Gave, quem quiser surfar o novo ciclo terá que colocar dinheiro na China – e por isso, talvez seja azar o fato de que muitos analistas passaram os últimos anos convencendo os clientes de que “a China não é investível.”
Em um webinar na semana passada, Gave disse que o mercado chinês tem uma “trifeta” a seu favor: “as coisas estão baratas, o momentum é positivo e agora há os incentivos do governo.”
De acordo com Gave, uma das razões de seu otimismo é que a redução de juros pelo Fed deverá fazer com que investidores de Hong Kong liquidem posições em dólar e comprem ações chinesas.
Segundo a Bloomberg, os ETFs de ações chinesas tiveram na semana passada o maior fluxo positivo em muitos anos.
O índice Hang Seng, de Hong Kong, se valoriozu 35% nos últimos 30 dias – atingindo seu maior valor desde 2022. O índice já bate o S&P 500 neste ano (38% para o chinês contra 20% do americano).
Em Nova York, a ação da Vale sobe 13,6% nos últimos 30 dias. A Suzano sobe 5%.