A receita e o EBITDA da BRF no segundo trimestre superaram as expectativas de boa parte dos analistas.
Ainda assim, o papel foi destroçado no primeiro pregão após o balanço.
As ações da dona da Sadia e Perdigão lideraram as perdas na Bolsa durante praticamente todo o dia, caindo mais de 12%.
A queda dramática não teve a ver com o que aconteceu no último trimestre, mas com a falta de perspectiva com o que está por vir.
Para alguns analistas, a BRF é uma empresa que precisa crescer para permanecer relevante – mas não tem espaço em seu balanço para isso.
O plano estratégico para 2030, que foi colocado em revisão no primeiro trimestre do ano, segue com o mesmo status. Na apresentação dos resultados aos analistas, o CEO Lorival Luz disse que assim que for validado pelo novo conselho, o plano será apresentado.
Na contramão do que o mercado espera, o CFO Fabio Mendes disse que a BRF está se preparando para investir menos em 2023. “Temos capacidade ociosa, que nos permite produzir mais sem aportar capital,” disse ele.
Para este ano, o capex projetado deve oscilar entre R$ 3,8 bilhões e R$ 4 bilhões.
A decisão de investir menos tem a ver com os planos da companhia para o segundo semestre. A BRF vai se desdobrar para reverter dois trimestres consecutivos de prejuízo, melhorar sua alavancagem, que está nos piores níveis dos últimos anos, e dar atenção ao fluxo de caixa.
Mesmo sem um risco iminente de liquidez, Lorival sabe que o resultado melhorou mas ainda está aquém do que precisa ser entregue. A companhia reportou uma margem bruta de 15,9% no segundo trimestre, muito melhor que os 9,2% do primeiro tri, mas ainda abaixo da média dos últimos cinco anos, de 21,2%.
A BRF está apostando suas fichas na sazonalidade e na Copa do Mundo. Historicamente, o desempenho do segundo semestre é melhor que o primeiro, e a Copa em um país do Oriente Médio deve aumentar o consumo de proteínas na região, dominada pelas marcas da BRF.
No Brasil, a BRF fechou o patrocínio das transmissões dos jogos, o que aumentará a exposição na mídia de suas marcas.
O contexto atual, no entanto, não é resultado de ações recentes. As mudanças provocadas pela era Abílio/Tarpon (2013-2018) na BRF permitiram que um managment altamente qualificado trocasse a BRF pela JBS.
A gestão Pedro Parente (2018-2022) começou a colocar os vagões nos trilhos, mas a chegada de Marcos Molina como controlador mudou novamente os planos.