O ano passado foi incomum para a área de M&A da Porto. A seguradora analisou 65 targets – mas não fechou negócio algum.
“Por enquanto,” o CEO Paulo Kakinoff disse ao Brazil Journal.
Fazer aquisições é um dos caminhos para “acelerar o planejamento estratégico de longo prazo”. Tradução: diversificar as linhas de receita da Porto para depender cada vez menos dos ciclos do mercado de seguro de automóveis.
“Pivotamos o modelo de negócio,” disse Kakinoff, que assumiu como CEO em janeiro de 2024 depois de uma temporada no conselho, onde o plano foi desenhado (assista aos principais trechos da entrevista no vídeo abaixo).
Há cinco anos, quando o plano estratégico começou a ser implementado, a venda de seguros de auto respondia por cerca de 70% do resultado da Porto. Hoje já é inferior a 50% – e deve continuar caindo.
A companhia não dá guidance, mas Kakinoff vê a receita dos seguros de auto crescendo um dígito nos próximos anos.
Nas demais áreas – banco, saúde e serviços – a expansão deve ser superior a 20%, com um ROE também maior que 20%, disse ele. Foi o que aconteceu nos últimos dois trimestres.
Por enquanto, o mercado aplaudiu a estratégia. A ação da Porto está no all-time high, uma alta de 45% no ano e 74% em 12 meses – bem mais que o Ibovespa, que valorizou 15% e 13%, respectivamente.
Com um faturamento de R$ 37 bilhões em 2024, a empresa agora vale R$ 34 bilhões na Bolsa.
A dúvida é o que vem por aí.
Quando a Porto concluiu a separação de suas unidades de negócio, em 2024, o mercado passou a especular que a empresa poderia vender ao menos uma fatia minoritária de cada vertical.
“Não estamos fazendo uma busca ativa, mas já fomos procurados por fundos,” disse Kakinoff. Segundo ele, a entrada de um minoritário é uma possibilidade – desde que este sócio traga alguma expertise que possa acelerar o cumprimento das metas da empresa.
Além disso, o eventual sócio precisa estar disposto a “antecipar a nossa geração de valor, medida por múltiplos significativamente superiores ao da PSSA3 (o código da ação).”
Hoje a empresa não precisa de recursos extras para crescer. Ao contrário: tem excesso de capital há anos, o que a faz ser constantemente cobrada por analistas e investidores por uma distribuição adicional de dividendos.
A Porto teve um ROE de 20% no ano passado: sem esse excesso de capital, o retorno poderia ser de 30%.
Dentro da empresa, há quem considere “inevitável” aumentar o payout neste ano. Kakinoff disse que, mantido o nível de geração de caixa, essa é sim uma possibilidade.
Outro destino para os recursos são os potenciais M&As – principalmente aquisições de PMEs que permitam ampliar a oferta de produtos e serviços, bem como a atuação geográfica da Porto.
“Já fizemos M&As no passado que não eram próximos ao core e não deram o resultado esperado. Isso nos ensinou a ser ainda mais criteriosos,” disse Kakinoff, referindo-se à atuação em telefonia e carros por assinatura.
A Porto lidera o setor de seguro de automóveis com 28% de share – e aposta nessa penetração e na marca que construiu ao longo de décadas para expandir as demais verticais.
Em plano de saúde, tem cerca de 700 mil vidas, pouco mais de 1% do mercado total. Só oferece planos para empresas e tem uma rede de atendimento restrita, com poucos hospitais, médicos e laboratórios.
Kakinoff disse que este modelo permite selecionar bons prestadores de serviço e controlar melhor a qualidade do atendimento, desperdícios e fraudes (a estratégia em saúde está no trecho do vídeo entre os minutos 5:57 e 10:07).
No banco, o plano não é ser mais um banco digital no mar aberto, e sim ampliar a oferta de produtos para clientes e parceiros.
Kakinoff acredita que existe demanda por investimentos “conservadores, com o perfil da Porto” entre os clientes e, por isso, a empresa planeja lançar novas opções. O Brazil Journal apurou que a Porto avalia comprar um wealth management para aumentar a expertise na área.
Também está nos planos, segundo o executivo, uma conta PJ, com cartão de crédito e linhas de financiamento, para atender a rede credenciada – apenas as oficinas receberam um total de R$ 2,5 bilhões em sinistros em 2024.