Taí uma ONG que resolve um problema do Brasil em geral — e da Faria Lima em particular.

Cleber Guedes trabalhava há dois anos na Endeavor quando a pandemia estourou em 2020. 

Nascido e criado no ABC Paulista, ele estava realizando um sonho: tentar mudar o mundo pelo empreendedorismo. “Mas naquela época eu comecei a me perguntar: eu estava mudando o mundo de quem?”, ele disse ao Brazil Journal

“Eu via meu irmão mais novo na escola pública sem ter aula porque estava tudo parado. Eu via meus pais ficando doentes e o SUS colapsando. E o pessoal de onde eu vinha não conhecia e nem tinha acesso a nenhuma das empresas que eu ajudava.”

Cleber GuedesA reflexão levou Cleber a largar a Endeavor para fundar a Programadores do Amanhã, uma ONG que oferece formação gratuita de programação, inglês e soft skills para jovens negros da periferia.

A ONG já formou 140 jovens, que saíram do curso empregados com um salário médio de R$ 3.600. 

“Isso gera um aumento médio na renda familiar desses jovens de 240%,” disse Cleber. “E a idade média deles ao se empregar é de 18 anos. Então temos jovens de 18 anos já ganhando um, dois, três, quatro salários mínimos e mais que triplicando a renda da família. O impacto é muito grande.”

Agora, a Programadores do Amanhã está abrindo uma nova turma para 60 alunos e pretende abrir outra em julho para mais 120 jovens. 

A ONG oferece aulas ao vivo pela Zoom num programa com duração de um ano. Além disso, envia um notebook para cada aluno e cobre os custos de internet (já que muitos não têm internet em casa). Os alunos também têm acesso a sessões de terapia.  

Para se bancar, a ONG conta com a doação de algumas poucas empresas. A mantenedora é a Méliuz, mas companhias como iFood e Localiza também contribuem.

A verba para este ano é de apenas R$ 1 milhão, mas o sonho de Cleber é captar mais para escalar o negócio. 

“Nossa maior barreira hoje para abrir mais turmas é a falta de dinheiro,” disse ele. “A Programadores do Amanhã tem potencial para transformar uma realidade que é muito desigual hoje.”

Hoje, na população brasileira abaixo de 30 anos, 32% das mulheres negras não trabalham nem estudam. Entre os homens negros, a taxa é de 25% — comparada a apenas 12% entre os homens brancos. 

“Ao mesmo tempo, quando olhamos para as empresas de tech, 33% delas não têm nenhuma pessoa negra no time de tecnologia,” disse Cleber. 

E nas que possuem, as pessoas negras não passam de 10% do time de tecnologia em 68% delas.

Cleber disse que acredita no poder transformador da educação, mas mais particularmente “no tipo de educação que eu tive, mais focada na empregabilidade.”

No primeiro ano do ensino médio, ele largou a escola para se tornar um jovem aprendiz no Walmart. Enquanto trabalhava, fez cursos técnicos de gestão de negócios e empreendedorismo.

Antes, já trabalhava desde os 12 anos para ajudar em casa. 

“Trabalhei em lava-rápido, lojinhas, várias coisas,” disse ele. “Quando eu tava com uns 15 anos vi que precisava trabalhar ainda mais – mas a escola não dava os conhecimentos que eu precisava.”

 

FAZER UM PIX É FÁCIL:  Programadores do Amanhã