A CVC acaba de anunciar um crescimento robusto das vendas em janeiro, um claro sinal de melhora operacional em meio ao temor dos investidores com os R$ 670 milhões em dívidas que estão para vencer.
As reservas confirmadas na maior operadora de viagens do Brasil subiram 90% na comparação anual, para R$ 1,35 bilhão (só em janeiro), e a CVC ganhou market share.
O volume foi puxado principalmente pelas vendas B2C, que são feitas nas lojas da rede e em seu ecommerce. Essas vendas cresceram 132% em janeiro, em comparação a uma alta de 40% do canal B2B (agências pequenas e médias que usam a plataforma da CVC para fazer suas vendas).
“O canal de maior crescimento foi justamente aquele que o mercado sempre nos questionou, que é o B2C,” o CEO Leonel Andrade disse ao Brazil Journal.
A CVC colocou no ar em novembro uma nova plataforma de vendas, integrando todos os seus canais (lojas, aplicativo e site). Em dezembro, a companhia fez o rollout dessa plataforma para toda a base de lojas e, no mês passado, os resultados começaram a aparecer.
“Um dos grandes desafios que tínhamos é que o cliente entrava na loja, fazia a transação e ninguém conseguia mais acompanhar aquilo. No app era a mesma coisa, ele pesquisava e a loja não via. Então construímos uma plataforma única que conecta tudo,” disse Leonel.
“O segundo investimento que fizemos foi construir um CRM integrado com muita inteligência. Saímos de zero para 35 milhões de clientes digitalizados. E a plataforma que entrou no ar é ‘plugada’ a esse CRM.”
Segundo Leonel, isso ajuda nas vendas porque permite à empresa ter um conhecimento maior do cliente e fazer ofertas mais assertivas.
A dinâmica das vendas de janeiro sinaliza para uma melhora do take-rate da companhia, que fechou o terceiro tri em 8% e estava pressionado, em parte, pelo aumento da participação das vendas B2B, que tem margens menores.
“Os dois negócios que mais cresceram foi a CVC no Brasil e a Al Mundo, na Argentina, que têm margens muito boas,” disse o CEO. “Além disso, janeiro foi um mês que não tivemos quase nada de promoções.”
O bom resultado vem num momento em que a CVC está tentando equacionar sua estrutura de capital. A companhia acaba de contratar a BR Partners para negociar com seus credores uma solução para dívidas de R$ 670 milhões que vencem no início de abril.
Há três caminhos possíveis: os detentores das debêntures fazerem uma rolagem da dívida; novos investidores comprarem um pedaço dessa dívida e fazerem a rolagem; ou a CVC emitir uma nova debênture com um prazo maior e liquidar as antigas.
O mais provável, neste momento, é a rolagem da dívida com os credores atuais.
Leonel disse que a CVC não quer aumentar sua dívida nesse processo, e que a tendência é que, nessa negociação, a dívida fique até um pouco menor “porque pode acontecer algum pré-pagamento.”
“Não existe o cenário de precisarmos de mais recursos. Todo o fluxo da empresa está equacionado,” disse ele.
A dívida bruta da CVC soma hoje R$ 900 milhões – um valor que Leonel considera adequado para o tamanho da companhia. A alavancagem ainda estaria alta considerando o EBITDA do terceiro tri, que foi de R$ 73 milhões, mas a expectativa é que esse número cresça ao longo deste ano.
A dívida da CVC já foi muito maior.
Em março de 2020, no auge da pandemia, a dívida bruta da operadora de turismo bateu R$ 2,2 bilhões. Nos últimos anos, a companhia levantou cerca de R$ 1,7 bilhão em aumentos de capital – e usou boa parte desse montante (R$ 1,3 bi) para pré-pagar dívidas.
Hoje o custo da dívida da CVC gira em torno de CDI + 5%.
A ação da CVC fechou sexta-feira a R$ 4,36, com a empresa valendo R$ 1,21 bi na Bolsa.