O Credit Suisse enfrenta uma severa crise de confiança, e seus problemas podem representar um risco sistêmico ao setor financeiro global dado o amplo relacionamento com outras instituições.
Um problema mais sério no Credit Suisse poderia ser o ‘black swan’ que agravaria os dois grandes movimentos globais de alta de juros e correção nas Bolsas – mas há relatos de que a autoridade monetária suíça já está trabalhando numa solução; uma opção lógica seria a fusão do banco com o outro gigante nacional, o UBS.
Numa solução doméstica, a autoridade monetária suíça poderia dar garantias de cobrir passivos desconhecidos que possam emergir após uma fusão. Com a ação do Credit Suisse negociando a 0,25x book, o mercado está apostando que o valor patrimonial do banco é substancialmente menor do que o que está marcado no seu balanço.
Os credit default swaps do Credit Suisse, isto é, o custo de se proteger contra um default do banco, subiram a níveis inéditos, na medida em que as contrapartes do CS tentam se proteger de um colapso.
O preço do contrato de 5 anos, que estava em 57 pontos-base/ano no início do ano, atingiu 350 pontos-base/ano hoje (ou 17,50% ao longo de cinco anos) – mais do que no pico da crise de 2008 – e o preço da ação renovou suas mínimas históricas.
De acordo com o Financial Times, executivos do banco suíço passaram o fim de semana em conversas com banqueiros, clientes e investidores, procurando esclarecer questionamentos quanto à liquidez da instituição.
“Nossos times estão em contato com nossos maiores clientes e contrapartes,” disse um executivo do banco, segundo o relato do FT.
Apesar do esforço, as ações do banco abriram em queda de até 10% na manhã de hoje, mas praticamente zeraram a queda ao longo do dia, fechando em baixa de menos de 1%.
O novo CEO, Ulrich Koerner, assumiu em junho com a missão de reestruturar o Credit Suisse. As divisões de private bank e wealth management são negócios rentáveis, mas a área de banco de investimentos se meteu em problemas sucessivos nos últimos anos.
Koerner deve apresentar seu plano no dia 27 de outubro. Segundo relatos na imprensa internacional, milhares de funcionários deverão ser demitidos.
No início de 2018, o banco tinha um market cap superior a US$ 45 bilhões. Agora, o valor caiu para perto de US$ 10 bilhões. Desde o início de 2022, as ações perderam mais da metade de seu valor.
Na sexta-feira, Koerner divulgou um memorando para tranquilizar os colaboradores. Disse que o banco tem uma situação confortável tanto de liquidez como de capital, acima das exigências dos reguladores, e buscou transmitir confiança na reestruturação.
Mas o documento vazou, e uma headline da Bloomberg pinçou uma frase do CEO de que o banco está num ‘momento crítico’. O texto da reportagem era muito menos dramático, mas a frase circulou durante todo o fim de semana aumentando a tensão sobre o futuro do banco.
Segundo informações da Reuters e da Bloomberg, Koerner disse no documento que “não é fácil permanecer focado em meio a tantas histórias na mídia – em particular, tendo em vista as muitas declarações imprecisas que têm sido feitas”. “Eu confio que vocês não vão confundir a performance das ações com a robusta base de capital e posição de liquidez do banco,” disse ele.
Analistas do KBW estimam que, mesmo com a venda de ativos, o CS precisa levantar ao menos US$ 4 bilhões para financiar sua reorganização e cobrir os prejuízos de apostas de seu banco de investimentos. O número é similar ao estimado pelo Deutsche Bank num relatório de agosto. Para os analistas do RBC, a necessidade de capital é maior, da ordem de US$ 6 bilhões.
Um dos maiores prejuízos recentes amargados pelo banco foi o colapso da Archegos Capital Management. A quebra da gestora, no ano passado, custou US$ 5,5 bilhões ao CS.
Uma investigação independente contratada pelo banco para analisar o caso expôs falhas na gestão de risco, além de executivos despreparados para os cargos e com carga excessiva de trabalho.
Com sede em Zurique, o CS possui uma vasta operação no mercado suíço, oferecendo serviços para todos os tipos de clientes. Internacionalmente, seus principais negócios são a divisão de investimentos e o private banking.
Nas conversas mantidas durante o fim de semana, o CS informou que dispõe de um buffer de US$ 100 bi em suas reservas de capital.
Em junho, o banco tinha 13,5% de capital na forma de Common Equity Tier 1 (CET1), que inclui as posições mais líquidas. De acordo com os executivos, a medida não teria se alterado demasiadamente nas últimas semanas. As autoridades suíças exigem um mínimo de 10%.
Fundado em 1856, o CS é o segundo maior banco da Suíça em ativos. Perde apenas para o UBS. De acordo com o Financial Stability Board, o CS está na lista de 30 bancos mundiais classificados como “global systemically important banks”.
Seu controle é pulverizado. Entre os seus maiores acionistas estão Harris Associates, Qatar Holding, Dodge & Cox e BlackRock.