Os próximos dois anos serão marcados pela maior quantidade de reestruturações de dívidas soberanas que o mundo já viu nas últimas quatro décadas.
A previsão é de Daniel Goldberg, o fundador da Lumina Capital e um dos maiores investidores em special situations do Brasil.
“Escrevam o que estou dizendo. Vocês vão ver a quantidade de vezes que vai aparecer no jornal que país tal contratou advogados e banqueiros de investimentos para fazer uma reestruturação de dívida,” disse o gestor, durante o Credit Suisse Alternatives Day, na tarde de hoje em São Paulo.
“E esse era um assunto esquecido,” disse ele. “Faz mais de duas décadas que — fora a Argentina e o Equador — ninguém reestruturava nada.”
Ao fazer seu prognóstico, ele disse estar falando de países emergentes com dívida externa relevante em dólar, como Argentina, El Salvador, diversos países do Caribe e América Central, Ghana, Senegal e Belize.
O cenário traçado por Goldberg é resultado de um movimento que aconteceu durante a pandemia: a migração do risco das famílias e empresas para os governos.
Segundo o gestor, a covid foi essencialmente um evento de desalavancagem de famílias e empresas às custas do contribuinte. “O que aconteceu é que os governos estressaram os seus balanços para desestressar as empresas e famílias,” disse ele.
“Agora que temos um dólar forte, uma taxa de desconto normalizando, o Fed subindo juros, o acesso a mercado reduzindo, e o petróleo a US$ 90, o efeito disso é que a quebradeira que vamos ver não é uma quebradeira de famílias e empresas, mas uma quebradeira de governos.”
Durante o evento do CS, Goldberg também disse que enxerga oportunidades relevantes no mercado de venture capital com a escassez de capital para essas empresas.
“Tem muita coisa interessante em venture debt,” disse o gestor.
Neste momento, a Lumina está negociando três transações de venture debt para “empresas saudáveis e com bons unit economics, mas que não estão conseguindo ter acesso a capital.”
Outra oportunidade, segundo ele, é no mercado de crédito quirografário. As mudanças recentes na Lei das Falências abriram a possibilidade de grandes credores converterem suas dívidas em equity como uma alternativa aos planos de recuperação judicial — aos moldes do que foi feito na Restoque.
“Isso permite que um investidor que comprar uma posição relevante de dívida possa sair [da operação] com o controle da empresa,” disse Goldberg.
Segundo ele, antes da mudança na lei ser aprovada, os bonds da Samarco negociavam a cerca de US$ 0,40. Após a aprovação, o preço desses bonds disparou para mais de US$ 0,80.
“Isso aconteceu porque os investidores viram que o jogo mudou. Que agora, no limite, os credores podem virar os donos.”