A Oncoclínicas acaba de reportar receita e EBITDA em linha com o consenso do mercado – respectivamente R$ 900 milhões, alta de 41% ano contra ano, e R$ 160 milhões (+40%) no segundo trimestre.
A grande surpresa foi a margem bruta, que ficou em 35,7% enquanto os analistas esperavam algo em torno de 33%.
“Tivemos uma margem bruta de hospital, apesar de sermos um negócio ainda muito asset light,” o CEO e vice-chairman Bruno Ferrari disse ao Brazil Journal.
A margem bruta subiu 6 pontos percentuais na comparação anual principalmente por dois fatores: a Oncoclínicas ganhou escala, o que lhe permitiu ser mais eficiente na compra de medicamentos (negociando preço); e o ramp up dos quatro cancer centers que a companhia abriu nos últimos meses.
Esses cancer centers – hospitais de alta complexidade que fazem operações como cirurgias e transplantes de medula – têm margens brutas maiores que as clínicas ambulatoriais da Oncoclínicas, que fazem apenas a infusão dos medicamentos de quimioterapia.
A Oncoclínicas tem 123 clínicas de infusão e seis cancer centers.
Bruno disse que a companhia deve abrir “nas próximas semanas” um novo cancer center em São Paulo, o maior da companhia até agora com uma área de 35 mil metros quadrados. Até o final do ano que vem, a expectativa é chegar a 10 desses hospitais em operação.
Os cancer centers permitirão à Oncoclínicas capturar uma fatia maior da jornada do paciente.
“Até pouco tempo, quando um paciente precisava fazer um tratamento complexo, um procedimento invasivo, a gente acabava tendo que encaminhar ele para hospitais de terceiros, deixando receita na mesa,” disse Bruno. “Nossa tese é capturar essa jornada completa.”
No segundo tri, a Oncoclínicas fez uma margem EBITDA de 17,7%, a mesma de um ano atrás.
O CFO Cristiano Camargo disse que esse resultado é positivo porque a empresa está “com muita pressão” de despesas das aquisições que fez recentemente e mesmo assim conseguiu manter o mesmo patamar de margem.
“O ganho de sinergia das despesas demora mais para ser capturado porque depois que compramos as clínicas passamos uns 12 meses rodando com uma estrutura duplicada de despesas para não gerar ruptura no atendimento,” disse ele. “É só depois de uns 12 meses que fazemos a transição completa para a nossa estrutura de backoffice e administrativo.”
Segundo ele, isso significa que a margem EBITDA tende a subir nos próximos trimestres.
“Estamos com a mesma margem do ano passado e ainda temos um mato alto para cortar… Dá pra colher muitos ganhos de sinergia de despesas,” disse Cristiano.
Já o lucro líquido ajustado (excluindo itens não-recorrentes) ficou em R$ 14 milhões. O bottom line foi afetado por um aumento nas despesas financeiras (com a alta da Selic) e uma ineficiência tributária que, segundo o CFO, deve ser sanada em breve.
Dado seu legado de aquisições, a Oncoclínicas opera com uma estrutura tributária subótima que gera um impacto relevante no lucro líquido. A companhia paga hoje uma alíquota efetiva de IR acima de 80% em cima do lucro antes de impostos, enquanto deveria estar pagando no máximo 34%.
A Oncoclínicas espera resolver essa questão até o final do ano com os impactos da mudança aparecendo parcialmente no quarto tri e totalmente no primeiro tri do ano que vem, quando “vamos pagar no máximo 34%, e achamos que até menos.”
O resultado vem num momento em que a ação da Oncoclínicas cai quase 70% em relação ao preço do IPO, há exatamente um ano, com a empresa sofrendo mais do que outros players de saúde.
De lá para cá, a Oncoclínicas fez doze M&As, adicionando R$ 340 milhões ao seu EBITDA – três vezes mais do que havia prometido no IPO.
A companhia vale pouco mais de R$ 3 bilhões na Bolsa.