Você (ou seus filhos) certamente já ouviu “A-cor-da Pedrinho!” – aquele verso que ficou onipresente (e onitocante) no último mês – mas talvez não saiba a história do ilustre cidadão.
Hoje com 50 anos, Pedrinho era um frequentador do Bar Aquarius, em Curitiba, onde era conhecido pelas sonecas que tirava durante o campeonato de sinuca que acontece no local – só acordava para fazer sua jogada.
No início deste ano, o quinteto paranaense Jovem Dionisio – cujo nome foi tirado do dono da birosca – se inspirou no cliente mais folclórico daquele bar para o tema e título de uma faixa de seu álbum de estreia.
Acorda Pedrinho – cujo refrão “A-cor-da Pedrinho! / Que hoje tem campeonato/ Vem dançar comigo/ Vai ver que eu te esculacho” – explodiu no streaming e se tornou um dos principais fenômenos da música em 2022.
Com o sucesso da faixa, o Jovem Dionísio é o primeiro grupo a liderar a parada do Spotify desde 2018, quando o trio pop Melim chegou ao topo com a balada Meu Amigo. O clipe de Acorda Pedrinho já passou a marca de cinco milhões de visualizações no YouTube – e, claro, já ganhou seu quinhão de releituras. O dorminhoco da birosca já está sendo despertado nas versões funk, forró e pagode.
Apesar de ter atingido sua popularidade no streaming, o Jovem Dionísio é um conjunto à moda antiga. Criado por cinco amigos de infância, eles formaram um contingente de fãs na base do corpo a corpo (ao contrário de artistas que usam o YouTube fazendo covers de sucessos pop).
No início, chamavam-se Huff e se apresentavam em festas e churrascos de amigos. Em 2019, passaram a utilizar o nome atual. Um ano depois, tiveram seu primeiro sucesso: Ponto de Exclamação, que virou um remix do DJ Vintage Culture com a participação da dupla Future Class.
“Eles entraram em contato pelo Instagram. Falaram que haviam gostado da música e gostariam de fazer um remix. Dois meses depois, contaram que o Vintage iria participar,” os dionísios disseram ao Correio Braziliense.
Contudo, nada os preparou para o sucesso de Acorda, Pedrinho. “Tudo aconteceu de forma orgânica, a gente não se preparou para esse momento. O nosso desafio agora é fazer muito show. Queremos tocar em todo Brasil,” o guitarrista e vocalista Bernardo Pasquali disse ao Brazil Journal.
O êxito de Acorda, Pedrinho lembra o de outro grupo de Curitiba, A Banda Mais Bonita da Cidade.
Dez anos atrás, eles se tornaram um fenômeno das redes sociais com Oração, música gravada em plano sequência e que hoje está em 50 milhões de visualizações. Embora tenha ajudado na divulgação do grupo em todo o país, o sucesso prejudicou a relação do conjunto com a cena local – um fenômeno que o showbiz local chama de “autofagia curitibana.”
“Chegamos a atingir o primeiro lugar no YouTube mundial, mas as pessoas daqui passaram a falar que não éramos uma banda tão boa assim,” desabafa Léo Fressato, autor de Oração.
Há diferenças entre os dois singles, a começar pela aceitação do sucesso do quinteto. Recentemente, o Jovem Dionisio participou, ao lado de diversas bandas de Curitiba, de uma nova versão de Dignidade, hit do Sr. Banana, um grupo de reggae curitibano surgido nos anos 90 e também prejudicado pela tal autofagia.
“O desafio é atingir outros públicos e mostrar nosso valor, sem perder a essência do trabalho,” diz o empresário e amigo de infância do grupo, Enricco Pasquali.
No universo pop, o termo novelty song classifica aquele tipo de música que faz sucesso mais por um detalhe curioso do que propriamente pela qualidade da canção.
My Ding a Ling, que o roqueiro americano Chuck Berry criou para homenagear o seu, digamos, instrumento de trabalho, e Don’t Worry Be Happy, canção satírica do intérprete de jazz Bobby McFerrin são clássicos que entram nessa categoria.
Acorda Pedrinho é uma novelty song por causa de seu tema satírico e do vídeo, que ajuda a contar a história do personagem dorminhoco. Mas a exemplo dos êxitos de Berry e McFerrin, há qualidade naquilo a que o grupo se propõe: uma mistura envolvente de pop e funk carioca, com um refrão grudento.
Além disso, o primeiro álbum do Jovem Dionísio, cujo nome remete ao seu maior hit, tem uma coleção de faixas calcadas no pop/rock que vão muito além de uma atração de ocasião.
“As pessoas gostaram da música, é isso. Não houve nenhum tipo de estratégia,” completa Belni.