Eu já tive várias boates e conheci muito nego louco na vida. Eu mesmo fui muito acelerado, já tive uma fase doidão. Mas nunca conheci um cara como o Maradona.
O Maradona foi um fio desencapado maravilhoso. Tinha uma vontade de viver, de acelerar, de curtir a vida como eu nunca vi igual.
Ele não era uma pessoa normal, que fica doidão, depois tem uma ressaca e fica um, dois dias se cuidando pra depois fazer outra noitada. Não. Ele emendava uma atrás da outra, e sempre com muita gente, muitas mulheres.
Quando eu organizava o Camarote da Brahma (que hoje se chama Camarote Número 1) chamamos ele para passar um carnaval no Rio. Ele chegou uns dias antes e foi pro Guarujá, para aquele hotel Casa Grande. Lá no hotel ele já deixou tudo de ponta cabeça; quem via ele já percebia que ele estava a mil.
Ele tinha uma turma que andava sempre com ele, que vivia por causa dele, para ajudar nas bagunças. E eram bagunças muito fortes, de dias, semanas, de alucinação completa. E aquilo me dava até uma sensação que ia acabar mal.
Mas aí ele foi para o Rio e colocamos ele no Sofitel, que é aquele hotel no final de Copacabana que sempre muda de nome. Ali o bicho pegou completamente, porque virou a central mundial da bagunça. Era um entra e sai de gente, um entra e sai de mulher, que eu nunca tinha visto igual. Mas no meio disso, ele sempre era extremamente simpático, sempre muito fácil de conversar.
Uma história mais pitoresca aconteceu no dia do carnaval. Ele foi para o carnaval de calça, e a certa altura da noite veio falar comigo que estava com muito calor nas pernas. Pô, estávamos na Marquês do Sapucaí, longe pra caramba do hotel, e eu tentando conseguir uma bermuda pra ele. Quando não encontrei, falei pra ele que tinha um jeito: cortar a calça dele e transformar numa bermuda. Ele adorou a ideia, tirou a calça ali mesmo, me deu pra eu cortar e depois ficou feliz da vida, pulando a noite inteira.
O Maradona era o tipo de cara que não precisava ir atrás de nenhuma mulher, porque todas queriam ele. Era um cara bonitão, bacana, com dinheiro, era o dia inteiro entrando e saindo mulher daquele camarote. E ele dava trela pra todas.
No outro dia, ele estava nadando tranquilo na piscina do hotel como se nada tivesse acontecido.
Conviver aqueles dias com o Maradona foi mais importante pra mim do que o próprio carnaval, do que o próprio camarote. Conheci ali uma pessoa que não era o ídolo que eu sempre imaginei, mas que era um garoto, um menino, uma pessoa super normal, que me chamava de ‘Vito’ o tempo todo e não tinha a distância que se imagina do ‘Rei do futebol’, do deus do futebol. O cara era Deus, porra.
A verdade é que conheci um menino bagunceiro, traquina, que todo mundo gostava, uma pessoa de uma humildade comparável à do Pelé. Eu acho que essas pessoas que passam de um certo nível de genialidade entendem bem que aquilo é um dom de Deus, e não adianta ser arrogante porque com essa genialidade vem também a obrigação de dividir esse dom com as pessoas.
Hoje, quando soube que ele morreu, eu senti um tremendo vazio. Não só porque eu conheci ele, mas porque na semana passada ele estava no jornal porque operou a cabeça, outro dia estava no jornal porque foi fazer uma dieta em Cuba, no outro dia porque estava dando uma opinião política… Ele era uma pessoa muito ativa, cheia de coisas e de vontade de viver.
O Maradona sempre esteve no auge. Ele nunca teve uma época de decadência. Até hoje ele é o cara: é uma pessoa atemporal, como o Michael Jackson, como o Mickey Mouse.
Ele despertava um imenso carinho. Não tem outro sentimento. Ele não despertava pena, como algumas pessoas falaram. Tem muita gente falando que ele se matou porque não se cuidava.
Realmente, ele não era um cara regrado, mas ele não despertava pena de maneira nenhuma. Era tipo um irmão desregrado que você quer cuidar.
José Victor Oliva é fundador do Banco de Eventos e produtor do Camarote Número 1.