Um grupo de investidores liderado pelo Softbank está injetando mais de meio bilhão de reais na VTEX, dona de uma plataforma de serviços para ecommerce baseada em nuvem.
A rodada de US$ 140 milhões inclui a Gávea Investimentos e a Constellation, a gestora de ações de Florian Bartunek, que está fazendo seu primeiro investimento em uma empresa de capital fechado por meio de um veículo criado exclusivamente para a operação.
O cliente típico da VTEX são empresas de varejo e marcas industriais que buscam um relacionamento direto com o consumidor. Essas marcas interagem com o cliente final de diversas formas: de pontos de venda virtuais (como quiosques em shoppings) até a venda online, passando pela venda nos marketplaces e o pós venda (via SAC ou call center).
A plataforma da VTEX viabiliza todas essas interações para empresas como C&A, Boticário, Whirlpool e Motorola. Numa outra vertical, a empresa atende clientes como a Black&Decker e a Nestlé, que usam seu software para se relacionar com distribuidores e varejistas num modelo B2B.
A VTEX vai faturar R$ 250 milhões este ano — um crescimento de 40% ao ano nos últimos cinco anos — e já é líder em seu segmento no Brasil e na América Latina.
Agora, quer entrar de vez no jogo global.
A companhia já atende 2.500 marcas e varejistas em 28 países, e este será o primeiro ano em que mais da metade das vendas estão fora do Brasil: 52% dos contratos já fechados para o próximo ano vem de outros países.
Os recursos da rodada vão acelerar a expansão internacional que teve início nos últimos cinco anos e o desenvolvimento de produto com foco em inteligência artificial.
“O futuro é alimentar o software com inteligência artificial para a melhorar o customer experience”, diz Mariano Gomide, co-fundador e co-CEO, que está baseado em Londres e encarregado da expansão internacional.
Este é o primeiro grande aporte recebido pela VTEX, que, com um modelo de receita recorrente e gerador de caixa, financiou a maior parte do crescimento — incluindo nove aquisições — com capital próprio.
A companhia chegou a receber um cheque de US$ 7 milhões do Naspers em 2011, mas os sócios e o fundo Riverwood recompraram a participação dos sul-africanos em 2015.
“Essa rodada vai fazer com que a gente seja mais agressivo nos processos de expansão orgânicos”, diz Geraldo Thomaz, que divide o comando com Gomide e coordena a área de desenvolvimento, no Rio de Janeiro. “Vamos poder ser mais ousados nas nossas decisões.”
Colegas desde os tempos da faculdade de engenharia mecânica, Gomide e Thomaz aprofundaram a amizade por conta da paixão compartilhada pela pesca submarina.
Entre algumas escapadas para Abrolhos, decidiram deixar o emprego no Icatu para fundar uma empresa voltada para a Internet em 1999. Fundaram então a Vitrine Têxtil — daí o nome VTEX — um software B2B para o relacionamento da indústria têxtil com os seus clientes.
“Abrimos a empresa em abril de 1999, a bolha estourou em março de 2000”, diz Thomaz. “Era uma empresinha muito pequena até 2007, com todas as histórias tristes de empreendedor, com dinheiro contadinho”.
A virada veio em 2008, quando fecharam um contrato para desenvolver a plataforma de ecommerce do Walmart no Brasil.
A VTEX começou como desenvolvedora pura de softwares de ecommerce, mas ao longo dos anos foi sofisticando sua atuação, se transformando no que chama de plataforma de ‘comércio unificado’.
Há ainda uma solução de ‘prateleira infinita’ para integração de estoques entre lojas físicas e online.
“Antigamente, tinha quatro, cinco, seis softwares para dar conta de tudo isso e eles não conversavam”, diz Mariano. “Temos tudo isso num software único, que acompanha a evolução do varejo”.
Boa parte do sucesso vem do modelo de distribuição. A empresa trabalha em parceria com agências de marketing, performance e design de ecommerce que fazem a implementação nos clientes — criando um ecossistema que dá escala e reduz os custos de operação, já que não exige equipes próprias.
A VTEX não descarta novos aportes e deve ter um IPO relativamente rápido.
“A gente quer ser a referência da próxima geração de ‘enterprises’ e para isso temos que nos tornar uma empresa pública aberta”, diz Thomaz. “Isso vai nos dar robustez para conseguir contratos globais e acesso mais fácil a capital.”