Pode parecer contraintuitivo que a filha de um dos homens mais ricos do mundo passe as tardes em videochamadas levantando capital junto a terceiros, mas Lara Lemann não pretende viver à sombra de Jorge Paulo.

11188 0812bcf4 7fc9 bdbd 2a0b 1a218c573b51“Meu pai é uma grande inspiração, mas no final do dia quem tem que captar dinheiro, entregar o retorno e ajudar os empreendedores somos nós,” Lara disse ao Brazil Journal sobre a Maya Capital, seu fundo de venture capital.

Dois anos depois de ser fundada, a Maya levantou US$ 40 milhões e já fez 25 investimentos, incluindo empresas como a NotCo, de alimentos à base de plantas; a Trybe, de cursos de programação; e a Kovi, de aluguel de carros.

“Queremos investir nos melhores times que estão resolvendo os maiores problemas da América Latina,” diz Monica Saggioro, a co-fundadora. Na Maya, isto quer dizer principalmente educação, saúde, habitação e serviços financeiros. 

Mais recentemente, a Maya investiu na Alive, uma plataforma que fornece a tecnologia para viabilizar vendas por live streaming uma espécie de Polishop 4.0. 


Lara e Monica se conheceram em 2016, apresentadas por amigos em comum. As duas estavam envolvidas com o tema do empoderamento feminino e começaram a discutir a ideia de criar uma gestora para suprir a lacuna em early stage.

“Existe um gap muito grande em early stage,” diz Monica. “Nos EUA havia 12 startups para cada fundo de early stage. Na América Latina, eram 80.”

O perfil das duas se complementa: Lara traz a experiência de ter sido investidora; Monica, experiência operacional. 

Antes de fundar a Maya, Monica trabalhou na Whirlpool, onde cuidava da área de novos negócios. Nos EUA, trabalhou na Restaurant Brands International (dona do Burger King) e no investment banking da Goldman, cobrindo tecnologia, mídia e telecom. Em 2015, foi fazer um MBA em Harvard, um pouco antes de conhecer sua sócia.

11189 56bd8f8b d13b c663 d855 c4abb57a2ddfDepois de se formar em ciência política e direitos humanos em Columbia, Lara trabalhou no Ministério da Educação em Brasília, foi trainee na Ambev e fez alguns investimentos-anjo, entre eles no Dr. Consulta.  

No ano passado, a Maya teve acesso a 90% de todas as transações de early stage que aconteceram na América Latina — um deal coverage bem acima da indústria.

Elas dizem que o approach é ‘on-demand hands on’. “A ideia é estar presente em 100% dos dias ruins dos empreendedores, mas não ficar no caminho deles no dia a dia, atrapalhando,” diz Monica.

O sonho grande das duas: ser um fundo de referência em early-stage na América Latina. 

“O que vai definir isso não é o assets under management, mas o quanto de valor conseguimos agregar para o ecossistema e quanto de retorno geramos para os investidores,” diz Lara.

A Maya tem cerca de 50 investidores, incluindo family offices brasileiros, americanos e europeus, além de empreendedores de sucesso que ajudam a trazer o deal flow. Provocada sobre o porquê de não ter captado todo o fundo na cozinha de casa, Lara nem pisca.

“Não queremos nos limitar a só um recurso financeiro. Poderíamos ter feito isso? Não sei, nunca perguntei pro meu pai. Nunca tive coragem de pedir tanto.”