A Facio — uma fintech que permite que funcionários antecipem seu salário — acaba de levantar US$ 5 milhões (R$ 27 mi ao câmbio de hoje) para acelerar sua expansão e criar um FIDC que vai comprar os créditos originados na plataforma.
A rodada foi liderada pela Monashees, Y Combinator e a ONEVC, a gestora brasileira baseada em São Francisco que foi uma das primeiras investidoras da Rappi.
Outros investidores incluem Igor Marchesini, o ex-CEO no Brasil da SumUp, uma adquirente alemã que concorre com a PagSeguro; Gabriel Braga, fundador do Quinto Andar; e Michael Seibel, o CEO da Y Combinator em seu primeiro investimento numa startup brasileira.
Esta é a segunda captação desde que a startup foi fundada no início deste ano.
A Facio está tentando resolver um problema recorrente nos corredores das empresas: ali por volta do dia 15, o salário acaba mas o mês continua. Os boletos não param de chegar e forçam muitos funcionários a pegar empréstimos a taxas obscenas.
A solução da Facio permite que o funcionário antecipe parte do seu salário, pagando uma taxa de 1% ao mês. O pagamento será descontado diretamente do salário no mês subsequente. (Para efeito de comparação, as taxas do cheque especial dos bancões — o produto que hoje atende essa necessidade — variam de 8% a 32% ao mês.)
“Na SumUp, esse era um problema recorrente do pessoal de atendimento ao cliente,” diz Saulo Tristão, o fundador da Facio e um dos empreendedores que trouxe a empresa alemã de pagamentos ao Brasil em 2013. “Às vezes a pessoa só precisava de R$ 100, R$ 200, mas o empréstimo mínimo do consignado do banco era de R$ 2 mil para pagar em seis meses. Falta flexibilidade e as taxas também são altas.”
Outro problema: o processo dos bancões é lento e burocrático e muitas vezes inacessível para PMEs.
A ideia de criar a Facio surgiu durante um MBA em Stanford, onde Saulo conheceu o conceito de ‘antecipação de salários’, já amplamente disseminado nos EUA.
Seu grande benchmark: a Dave, uma fintech da Califórnia que começou fazendo apenas a antecipação de salários e hoje opera como um banco digital completo. Fundada em 2016, a Dave foi avaliada em US$ 1 bilhão em sua rodada mais recente (um Series B no final do ano passado).
Além da antecipação de salário, a Facio lançou recentemente o crédito consignado tradicional (que vai permitir que os funcionários de empresas troquem uma dívida cara por uma mais barata) e uma poupança.
“Apesar de terem o mesmo colateral, a antecipação e o consignado são produtos para momentos e necessidades completamente diferentes,” diz Saulo. “A antecipação é para uma emergência; o consignado para um empréstimo maior.”
A capitalização vai ser usada para investir em marketing e para comprar as cotas subordinadas de um FIDC de entre R$ 10 milhões e R$ 20 milhões que a fintech está levantando.
Hoje a Facio apenas origina os créditos, que são comprados por um banco parceiro (o Money Plus) num modelo conhecido na indústria como ‘barriga de aluguel’. (A ideia é que o FIDC compre essa carteira de crédito do Money Plus).
No futuro, Saulo quer transformar a Facio numa Sociedade de Crédito Direto, que poderia dar crédito diretamente ao consumidor — eliminando a figura do banco intermediário — e lançar novos produtos de empréstimo.