Um recente discurso de Tim Cook em Bruxelas está chamando a atenção no Vale do Silício, que viu nas palavras do CEO da Apple um ataque frontal ao Facebook — sem que o nome da empresa jamais fosse mencionado.
Segundo a Inc., o discurso parece ser uma reação ao fato do Facebook ter comprado anúncios de página inteira nos principais jornais americanos para criticar as novas políticas de privacidade da Apple — que, segundo o Facebook, “prejudicam pequenos negócios” e têm o potencial de “mudar a internet para pior.”
Um confronto público entre Apple e Facebook era uma questão de tempo, já que as duas empresas têm modelos de negócios diametralmente opostos. “Enquanto a Apple é uma marca de lifestyle que vende a seus consumidores um maior controle sobre sua privacidade, o Facebook literalmente se alimenta dos dados,” diz a revista.
Abaixo, trechos do discurso, numa tradução livre:
“A tecnologia não precisa de uma vasta coleção de dados pessoais costurada de dezenas de sites e aplicativos para ter sucesso. A publicidade existiu e prosperou durante décadas sem isso, e estamos aqui hoje porque o caminho mais fácil é raramente o caminho da sabedoria.
Se um negócio é construído com base em enganar os usuários sobre a exploração de seus dados, sobre escolhas que na realidade não são escolhas, então esse negócio não merece nosso aplauso. Ele merece ser reformado.
Não devemos ignorar o quadro geral. Num momento de desinformação desenfreada e teorias da conspiração alimentadas por algoritmos, não podemos fingir que não vemos uma teoria da tecnologia que acredita que todo engajamento é um bom engajamento, que quanto mais tempo melhor, e tudo isso com o objetivo de coletar o máximo de dados possível.
Muitos ainda estão se perguntando, “até que ponto vamos conseguir nos safar?”, quando eles deveriam estar se perguntando, “quais são as consequências?”
Quais as consequências de priorizar teorias da conspiração e incitações à violência simplesmente porque elas geram altas taxas de engajamento?
Quais as consequências de não apenas tolerar mas de recompensar conteúdos que minam a confiança do público em vacinas que salvam vidas?
Quais as consequências de ver milhares de usuários entrando em grupos extremistas e perpetuando um algoritmo que recomenda ainda mais?
Já passamos da hora de parar de fingir que essa abordagem não vem com um custo. Uma polarização que gera perda de confiança e, sim, violência.
Não podemos permitir que o ‘dilema social’ se transforme numa catástrofe social.”
ARQUIVO BJ
‘The Social Dilemma’ alerta: redes sociais podem levar à guerra civil
