A Azos — uma insurtech brasileira de seguro de vida — acaba de levantar US$ 6 milhões com a Munich Re.
Este é o primeiro investimento da maior resseguradora do mundo numa startup da América Latina.
A rodada é uma extensão da Série A que a Azos fechou em dezembro, quando a startup levantou outros US$ 10 milhões numa rodada liderada pela Prosus (o grupo listado na Euronext Amsterdam que reúne os ativos internacionais de internet da sulafricana Naspers).
A Munich Re investiu por meio de um novo fundo de US$ 400 milhões que levantou no início do ano. A resseguradora tem adotado uma postura ativa no mercado de venture capital, colocando um pé em praticamente todas as principais insurtechs do mundo.
Nos últimos anos, ela já investiu nas americanas Next — uma das maiores insurtechs do mundo — e Hippo e na indiana Acko.
A resseguradora também tem uma parceria com a Lemonade, a maior corretora de seguros digital dos Estados Unidos.
A Azos foi fundada há pouco mais de dois anos por três amigos: Rafael Cló, Renato Farias e Bernardo Ribeiro. A ideia da startup surgiu depois que Rafael enfrentou uma batalha hercúlea para conseguir regularizar seu seguro de vida depois que seu cartão de crédito venceu.
“Eu tentei resolver na área logada, não consegui. Liguei no atendimento, não consegui. Falei com meu corretor e ele disse que não conseguia me ajudar porque não tinha acesso aos dados da apólice. Liguei para a seguradora, e falaram que o departamento financeiro tinha que ligar. Quando finalmente consegui falar com eles, eles queriam que eu pagasse multas e juros do pagamento atrasado. Foi quando cancelei meu seguro,” Rafael disse ao Brazil Journal.
Mas quando achava que tinha resolvido a celeuma, veio o balde de água fria: a seguradora informou que, para cancelar o seguro, Rafael teria que enviar uma carta escrita de próprio punho. “Foi nessa hora que eu tive o clique de que existia uma oportunidade muito grande,” disse ele.
A Azos começou a operar no modelo conhecido como MGA (managing general agent): ela tem uma parceria com uma seguradora tradicional — a Excelsior — que fornece o balanço e assume os riscos, eliminando a necessidade de obter uma licença na Susep.
A Azos fica responsável basicamente por estruturar os produtos de seguro que serão vendidos e cuidar da experiência do cliente e da precificação do risco.
Nesse modelo, a seguradora captura toda a receita do float, enquanto a Azos ganha basicamente de duas formas: uma receita por originar os clientes e outra por precificar adequadamente o risco (que depende basicamente da evolução da sinistralidade).
Segundo Rafael, desde que começou a operar em abril de 2021, a sinistralidade ficou um pouco abaixo de 50%. O nível ainda é um pouco superior à média do mercado, que ficou em 35% no período, mas há um fator a ser levado em conta.
Os seguros da Azos custam, em média, 30% a 40% a menos que os das seguradoras tradicionais. Como a sinistralidade é a divisão do valor gasto com sinistros pelo prêmio das apólices, um prêmio menor naturalmente vai jogar a sinistralidade para cima.
Rafael não abre a base de clientes da Azos, tampouco o total de prêmios emitidos, mas diz que a startup já tem mais de R$ 4,5 bilhões de capital segurado.
A Azos diz que está se diferenciando das seguradoras tradicionais com um processo de underwriting mais rápido — que leva alguns minutos em comparação aos 10 dias tradicionais, segundo o fundador — e com um produto mais vantajoso para o consumidor.
“Boa parte dos seguros de vida tem cláusulas bem leoninas nos contratos. A maioria inclui dois artigos que dão o direito da seguradora cancelar a apólice em qualquer momento se achar que o risco não é mais vantajoso. Ou seja, uma pessoa pode ficar pagando o seguro de vida a vida inteira e, quando chegar aos 60 anos, a seguradora resolver cancelar unilateralmente,” disse ele. “A gente tirou isso das cláusulas dos nossos contratos.”