A Guerra, fabricante de carrocerias de Caxias do Sul e concorrente da Randon, demitiu mais de 300 funcionários na sexta-feira.
Segundo o Zero Hora, a medida faz parte do pedido de recuperação judicial da empresa, validado no início de julho. Em nota, a Guerra também disse que a queda na demanda agravou sua situação.
A Randon, líder do setor, teve uma queda de faturamento de 25% no primeiro trimestre deste ano. De acordo com a associação que representa os fabricantes de carrocerias, as vendas de implementos rodoviários (reboques e semirreboques) caíram 48,7% no primeiro semestre.
Historicamente dona de mais de 30% do mercado, ao longo dos últimos anos a Randon priorizou linhas com retorno maior (baús frigorificados, tanques e canavieiros). Estes semirreboques têm margens maiores mas vendem menos unidades, o que reduziu o market share da empresa para perto de 25%.
A Guerra — a número 2 do setor, com um share de 14-15% — foi vendida para a gestora de private equity Axxon Group no primeiro semestre de 2008, quando o Brasil e o setor rodoviário estavam bombando.
Com uma dívida de 212 milhões de reais, a Guerra tinha 1.300 funcionários antes das demissões de sexta-feira.
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A verdade exemplificada pela Guerra é que o mercado de trabalho mergulhou, e a coisa ainda deve piorar.
O CAGED, que mede o fluxo de trabalhadores no setor formal da economia, registrou demissões líquidas de 99.096 pessoas em junho.
Nos últimos 12 meses, foram 730 mil demissões, o pior registro da série. O País fechou, em média, cerca de 200 mil postos de trabalho por mês, nos últimos três meses.
Quase todos os setores estão demitindo, e o salário de admissão está caindo.
Este é o lado mais dramático da crise atual.
O brasileiro da classe C — que foi incluído no mercado de consumo nos últimos anos — talvez até consiga conviver com a conta de luz que dobrou e pode, também a contragosto, adiar a recém-conquistada viagem ao exterior com o dólar agora a 3,40.
Mas, no gráfico abaixo, estão coisas incontornáveis: o sonho — adiado ‘sem previsão’ — dos recém-formados que querem começar uma carreira, e o drama de muitos chefes de família.
Quando a mudança na política finalmente permitir que o País comece a adotar os remédios (micros e macros) para o quadro atual, este gráfico deve estar, infelizmente, ainda mais desolador.