Em menos de 24 horas, a improvável campanha de Donald J. Trump à Casa Branca foi levada às pressas para a UTI, e uma avalanche de líderes do Partido Republicano estão pressionando o candidato a renunciar.
 
Trump já havia ofendido negros, muçulmanos, mulheres, os obesos, a imprensa, além de seus próprios companheiros de partido numa primária que mais pareceu um reality show do que a vida real — e, apesar de tudo isso, mal perdeu eleitores.  Em dado momento, ele disse que poderia até “dar um tiro em alguém no meio da Park Avenue e ainda assim eu não perderia votos.”Donald Trump
 
Mas a gravação que emergiu ontem à noite — em que Trump se vangloria de pegar mulheres pela gentitália e dar em cima de mulheres casadas, entre outras vulgaridades — foi demais até para quem tinha aguentado tudo até agora.
 
O assunto deste sábado nos EUA não é mais a loucura que seria uma presidência Donald Trump, e sim se é possível fazer o candidato renunciar — e quem colocar no lugar. 
 
Se o Partido Republicano conseguir forçar Trump a renunciar à candidatura, é muito possível que o establishment do Grand Old Party (GOP) — not so grand these days — busque Mitt Romney, o ex-sócio da Bain Capital, ex-governador de Massachusetts e candidato derrotado por Barack Obama em 2012.
 
Nenhum grande jornal americano escreveu sobre essa possibilidade até agora, mas uma fonte americana diz que há sinais claros de que o ‘team Romney’ está mobilizado e trabalhando para este resultado.
 
Ontem à noite, os quatro primeiros Republicanos a atacar Trump (assim que a gravação veio a público) eram todos políticos mórmons, assim como Romney. 
 
Primeiro foi Jeff Flake, senador pelo Arizona.  Em seguida, Jason Chaffetz, um veterano da Câmara (Chaffetz foi criado judeu mas se converteu à igreja mórmon quando estudou na Brigham Young University, em Utah, o Estado-sede da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias).
 
Depois:  John Huntsman, ex-candidato à presidência, e Gary Herbert, o governador de Utah, extremamente popular no Estado.
 
Mas o comentário mais significativo foi feito por Spencer Zwick, arrecadador de campanha de Romney em 2008 (quando Romney não passou das primárias) e em 2012, e que hoje trabalha como arrecadador de Paul Ryan, o presidente da Câmara (que foi o vice de Romney em 2012).
 
Zwick, filho de um dos líderes mais sêniores da Igreja mórmon, disse o seguinte ao repórter Mark Halperin: “Os grandes doadores do partido estão retirando seu apoio a Donald Trump e querem financiar um esforço para apoiar outra pessoa como o candidato Republicano.”
 
Uma fonte mórmon com trânsito em Salt Lake City disse ao Brazil Journal:  “Não gostamos de Trump porque a história dos mórmons foi marcada por perseguição.  Ficamos muito preocupados com gente que filtra as pessoas com base na religião, mesmo que o alvo sejam muçulmanos.  Essa é uma área muito sensível para os mórmons.”
 
Enquanto o Twitter de Donald Trump é uma metralhadora giratória de ódio e preconceito, o de Romney oferece o oposto.  Veja os tweets abaixo: 
 
13 de junho (dia do atentado à boate gay em Orlando):  “Enquanto fazemos luto pelas vítimas do terror islâmico em Orlando, Ann e eu fazemos uma oração especial pela comunidade LGBT, que foi o foco deste ataque.”
 
2 de julho  (por ocasião da morte do prêmio Nobel da Paz, Elie Wiesel): “Rezo para que este farol que foi Elie Wiesel nos guie para longe dos cardumes do ódio e do racismo.”
 
8 de julho:  “Que possamos parar de ver as pessoas como pretos, brancos, marrons ou ‘de uniforme azul’ e os vejamos como maridos, esposas, filhos, filhas e crianças de Deus.”
 
E ontem:  “Dar em cima de mulheres casadas? Fazer apologia da violência? Essas degradações vis rebaixam nossas esposas e filhas corrompem a face da América perante o mundo.”
 
A crudeza dos comentários de Trump revelados ontem foi tal que até seu candidato a vice, Mike Pence, se distanciou dele: “Como marido e pai, estou ofendido pelas palavras e ações descritas por Donald Trump no vídeo. Não tolero seus comentários e não posso defendê-los.”  Pence cancelou sua ida a um evento do partido nesse sábado, e disse que vai esperar a performance de Trump no debate de amanhã à noite.
 
As próximas horas serão definitivas.  Se Trump for massacrado no debate, os incentivos para que o Partido faça uma debandada completa aumentarão. (A hemorragia na campanha é tão grave que a revista Slate criou um ‘live blog’ para acompanhar a sangria.)
 
Uma possibilidade é o Partido Republicano declarar publicamente que não apoia mais o seu candidato.  Os republicanos temem o chamado ‘down ballot effect’ — se Trump for odiado, isso pode tirar votos de outros candidatos à Câmara e ao Senado, o que teria impacto ainda mais grave para o futuro do GOP do que Trump perder.
 
As regras da eleição não permitem ao Partido substituir o candidato que ganhou a convenção — exceto em caso de morte.  Para que haja uma substituição, Trump terá que renunciar voluntariamente.
 
Obviamente, seu ego jamais permitiria isso, mas, se ele naufragar no debate, a pressão do partido e de todos os interesses em jogo talvez dêem resultado.
 
Por volta das 14 horas, horário do Brasil, Trump tuitou:  “The media and establishment want me out of the race so badly –  I WILL NEVER DROP OUT OF THE RACE, WILL NEVER LET MY SUPPORTERS DOWN!”