De uma semana pra cá, nos bancos da Faria Lima e nos bancos do metrô, toda conversa inteligente inclui a pergunta: “o que vai acontecer com o Brasil?”
O sentimento entre os agentes do mercado financeiro é desânimo. Justo quando a recuperação econômica começava a ganhar velocidade, quando o Governo finalmente parecia ter os votos para as reformas trabalhista e da Previdência, justo quando a grande nuvem negra do caos pós-Dilma parecia estar se levantando, a delação bovina ameaça mandar, de novo, a vaca pro brejo.
Mas há razões para otimismo em meio à incerteza — ainda que, para persuadir os senhores deputados, talvez ainda seja necessário o dólar a R$4. O descontrole cambial temporário é uma espécie de ‘panic button’ nos rituais sadomasoquistas da política brasileira. Nunca falha.
Nos dois cenários abaixo, o resutado é positivo para a economia.
Muita gente argumenta que Temer ‘perdeu as condições’ de governar, que a entropia em Brasília é tão grande que se tornou impossível performar aquela neurocirurgia mais conhecida como ‘reforma da Previdência’.
Cabe apenas ao Presidente dissipar essa impressão. O melhor que Temer pode fazer agora — e claramente já está tentando fazê-lo — é conseguir vitórias na aprovação das reformas. Nada abafa uma crise mais rápido do que um placar vitorioso no Congresso. E nada seria mais positivo para o Brasil do que avanços na economia em meio ao caos na política.
Mas como nenhuma crise tem mapa ou bula, é possível que de fato Temer não entregue.
Se o Presidente se vir inviabilizado e seu mandato se tornar uma mera peça ornamental, ele deveria abrir caminho para uma solução negociada, ajudando a escolher alguém cujo sucesso será seu verdadeiro legado.
Os que temem a queda do Presidente o fazem por acreditar que, com ele, é possível que caia toda a agenda de reformas. O temor faz sentido: na política, símbolos frequentemente valem mais que fatos, e a percepção costuma predominar sobre a substância.
Mas a política também é a arte da reinvenção e da reciclagem.
Um novo presidente jamais poderá ficar deitado em berço esplêndido, matando tempo até 2018 chegar. Como a Política não aceita vácuos, nada mais natural que a agenda seja executar as reformas que já estão tramitando.
Com dificuldade? Sim. Com esperneio? Certamente. Com a Esplanada em chamas? Esperemos que nem tanto. (Afinal, os 500 ônibus alugados pelas centrais sindicais, que geraram o vandalismo de ontem, dependem do dinheiro do imposto sindical, agora próximo do fim.)
Perder a oportunidade de fazer as reformas agora seria uma imbecilidade recorde até para os padrões brasileiros: o País já chegou a um consenso sobre o diagnóstico, a equipe econômica já desenhou o prognóstico, e o Governo atual já o encaminhou ao Congresso. Falta empurrar pra grande área e finalizar.
As primeiras palavras a sair da boca de um eventual substituto de Temer terão que ser, necessariamente: “A agenda de reformas não era a agenda do Governo passado, é a agenda do País que está aí.”
Se esta transição de fato acontecer, o Brasil precisará acima de tudo de um bom comunicador, um presidente-tampão que dialogue com a sociedade, que saiba lidar com o Congresso, e que nos conduza com serenidade até 2018.
Muitos nomes tem circulado na imprensa, mas o ‘dirty little secret’ de Brasília é que congressista vota em congressista: os deputados querem eleger alguém que já conheçam, com quem tenham trânsito e, se possível, familiaridade. Alguém que entenda a vida do político, suas dificuldades na base, seu instinto de sobrevivência
Rodrigo Maia é o primeiro da fila, mas apesar de seu favoritismo junto ao baixo clero, ele talvez prefira não trocar uma reeleição tida como certa ano que vem por um mandato-tampão que só trará dor de cabeça, noves fora ser investigado na Lava Jato.
Na opinião deste Journal, o melhor entre os nomes cogitados até agora é o Senador Tasso Jereissati — um político equilibrado em tempos desequilibrados, um empresário que entende como a máquina estatal sabota o potencial do País, e um nome que se manteve menos exposto à acidez da polarização política dos últimos anos.
O Brasil traz em si o antídoto contra todas as crises que gera.
Em 1990, um Presidente recém-eleito confiscou todo o dinheiro dos brasileiros, deixando apenas 50 mil cruzados novos na conta de cada um, na maior violação do direito de propriedade da História do País. (E vocês acham que isso aí é crise?)
Depois de uma travessia improvável, com um vice que todos tinham como um simplório, chegamos ao Plano Real.
Com Temer, Maia ou Tasso, a pinguela resiste e a travessia vai ser feita — mas se der pra evitar o ‘panic button’, a casa agradece.