A decisão do Governo Trump de retirar os EUA da Organização Mundial de Saúde (OMS), anunciada ontem, “pode ser o mais importante abandono do internacionalismo que os EUA já fizeram desde a Segunda Guerra Mundial,” disse o ex-Secretário do Tesouro dos EUA e ex-presidente de Harvard, Lawrence Summers.
“É um ato completamente irresponsável que vai prejudicar o combate a doenças no mundo todo e, no final das contas, vai prejudicar nossa segurança,” Summers disse à Bloomberg.
“Deus sabe que a OMS tem problemas profundos, mas os EUA deveriam consertá-la e não abandoná-la.”
Para ele, “as gerações futuras vão lamentar essa decisão e a falta de confiança que ela gera.”
Summers disse ontem que o mercado deu de ombros — o S&P subiu depois da fala de Trump — porque a decisão “não é algo que afeta os lucros das empresas nos próximos anos, então não afeta o mercado acionário, mas é a coisa mais importante que aconteceu hoje.”
Sobre a tensão entre os EUA e a China — agravada pelos eventos em Hong Kong — Summers disse que o mercado já estava botando no preço o fato de que a relação bilateral “está em seu pior momento desde que Nixon abriu a China 50 anos atrás.”
“Mas o fato de que não houve uma reação do mercado não deveria tornar as pessoas complacentes,” disse Summers. “A forma mais provável da História tomar um rumo errado nesta década é por meio de fissuras entre os EUA e a China.”
Summers, que serviu no Tesouro no Governo Clinton, é uma voz representativa do pensamento do Partido Democrata, e é amigo e conselheiro de Joe Biden.
Seus comentários — a cinco meses da eleição de 3 de novembro — sugerem que se Trump perder a Casa Branca, um Governo Biden voltará ao multilateralismo que caracterizou todos os governos anteriores — incluindo os Republicanos, cujo credo no isolacionismo sempre ficou mais na retórica que na prática.
“Eu acho que o erro mais grave de política externa de Trump foi o seguinte: quanto mais você achar que a China é uma ameaça séria, mais fortes têm que ser nossas alianças globais, com o resto do mundo. O que é estranho é essa estratégia de elevar a ameaça chinesa e ao mesmo tempo não tentar cultivar estas alianças.”