1. Como todo presidente, Jair Bolsonaro só pensa na reeleição. Isso seria aceitável, desde que para atingir esse objetivo não se sacrifique o País. As reformas não podem ser adiadas por causa da reeleição.
2. Governar não é distribuir bondades assinando cheques sem fundo. Governar — e liderar — é criar consenso político para as reformas difíceis e unir o País em torno delas.
3. A agenda de redução do tamanho do Estado precisa andar. O que importa é ter acesso a bons serviços, e não se a empresa é pública ou privada. O Congresso e o Judiciário também precisam acordar.
4. Paulo Guedes, o ministro da economia, descolou dos compromissos de Paulo Guedes, o economista. A covid é uma crise temporária. Só o governo pode transformá-la em um problema permanente, e fará isso rápido se desistir das reformas.
5. Com uma canetada solitária, o Ministro Humberto Martins, do STJ, trouxe de volta uma moda dos anos 60: a encampação de propriedade privada. Isso prejudica os investimentos e detona as chances de crescimento da economia. Essa caneta está jogando contra o País.
6. O Governo já está na metade do mandato e a articulação política ainda depende de quem gosta de quem e quem falou mal de quem. Mas na política, não se escolhe o interlocutor. Nossos funcionários em Brasília precisam recordar disso.
7. O Ministério da Economia sofre de entropia interna e falta de pragmatismo externo. Os “trilhões” das vendas de ativos nunca apareceram, e nada do que foi prometido “para amanhã” foi entregue. Vamos combinar o seguinte: uma agenda de reformas menos ousada, mas que seja viável de ser aprovada e se preserve o ajuste fiscal.
8. Quem pedala em precatório tem vocação para calote. Criar um programa de renda básica atrasando pagamentos de precatórios cheira a truque contábil. As bruxarias do passado todos sabemos como terminaram.
9. O mundo abandonou o Brasil. A participação de estrangeiros na dívida pública é a menor desde 2009, e desde o segundo trimestre do ano passado eles sacam recursos do País. Nos últimos 12 meses, o Real se desvalorizou mais do que o peso argentino, apesar de calote e inflação de 40% no vizinho. Se as reformas não avançarem, esse fluxo vai continuar…
10. O Brasil ganhou tempo para respirar com juros na mínima histórica, mas está desperdiçando a janela. Se for para o lado errado, o país se torna insolvente rapidamente. O juro longo já abriu bastante. Está cada vez mais difícil para o Tesouro rolar a dívida: os leilões estão cada vez menores, e as LFTs estão sendo vendidas com deságio. Os fundos DI — o credor cativo da nossa dívida pública e onde a classe média guarda sua poupança — vão render cada vez menos.