O Presidente Bolsonaro foi dormir ontem decidido a trocar o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco.
Mesmo que o sucessor de Castello Branco mantenha intacta a política de preços da companhia, a troca será vista como uma interferência violenta e desnecessária na empresa, e causará prejuízos ao País — alguns imediatos, outros duradouros.
Dentre os prejuízos imediatos: uma eventual demissão de Castello Branco afugentaria os interessados no ambicioso programa de venda de ativos da Petrobras, que inclui negócios de gás e algumas de suas refinarias (aliás, a área onde o sindicalismo da estatal sempre foi mais forte).
Será que o Presidente entende como reagirão os investidores estratégicos — que dependem da estabilidade das regras do jogo para decidir investir bilhões de reais na compra destes ativos — quando descobrirem que um dos CEOs mais eficazes da história da Petrobras foi mandado embora por defender os interesses da companhia?
O papinho de que “é prerrogativa do Presidente da República nomear o Presidente da Petrobras” não vai colar. Entre adultos, é preciso ter bons motivos para uma troca neste nível de senioridade, não bastando apenas um “nosso santo não bateu.”
Numa entrevista publicada hoje, o representante dos minoritários no conselho da Petrobras, Marcelo Mesquita, disse, “Mesmo que o presidente Bolsonaro troque as pessoas, o CEO etc, a lei é a lei e não será fácil achar pessoas ilibadas e qualificadas dispostas a fazer um papel errado na empresa. As instituições são mais fortes do que as pessoas, e a empresa vai resistir com a lei a qualquer interferência (se houver).”
Em vez de demitir Castello Branco, o Presidente deveria lhe agradecer. Sua gestão terminou a limpeza iniciada na gestão Pedro Parente, reduziu o endividamento da companhia e começou a vender uma série de ativos nos quais a Petrobras só se metera para agradar políticos, empresários ou ideologias.
Ainda assim, Castello Branco está prestes a se tornar o bode expiatório de um aumento de preços causado em grande parte pelo frio épico que se abateu sobre os EUA desde a semana passada. Em suma: o homem certo, no preço do barril errado.
Uma eventual demissão também aumentará a ansiedade entre os investidores sobre o grau de independência das estatais brasileiras, uma percepção que já piorou recentemente quando Bolsonaro se manifestou contra um plano de demissões voluntárias e o fechamento de agências do Banco do Brasil.
Essa piora de percepção terá impacto não só sobre as ações da Petrobras, mas sobre o dólar, os juros e o nosso risco de crédito. Com tanto problema pra resolver, o Planalto quer cavar mais um?
Os Presidentes brasileiros nunca conseguiram ter um comportamento adulto em relação à Petrobras.
Como já escreveu inúmeras vezes o professor Adriano Pires, a paridade dos preços de combustíveis com o mercado internacional só funciona quando o petróleo está em queda. Quando ele sobe, é hora dos “veja bem,” dos “calma lá,” dos aumentos adiados, subsidiados ou simplesmente vetados.
Bolsonaro deveria mudar de ideia para não se igualar ao governo populista do PT que tanto disse combater.
Quem sabe ainda dá tempo? O Presidente já vacinou sua mãe — um sinal de que, apesar de todo o barulho, ainda sabe fazer a coisa certa.