Há alguns anos as Lojas Americanas namoram, de longe, o mercado de drogarias.
Agora, já podem pensar em noivado.
Na semana passada, ao julgar uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI 4954), o Supremo Tribunal Federal declarou constitucional uma lei do Acre que permite a venda de produtos de conveniência em farmácias. A decisão foi comemorada pelas drogarias, que poderão faturar mais vendendo desde chocolates até pilhas.
Mas ao acabar com anos de liminares e insegurança jurídica sobre o tema, a decisão do Supremo também abre caminho para as Americanas pensarem em uma aquisição no setor, ou em adaptar suas lojas para incluir a venda de medicamentos.
“Da mesma forma que [as Lojas Americanas] compraram a Blockbuster e botaram a locadora no fundo da loja, por que não ter um balcão e vender genéricos para atrair mais tráfego,” diz um gestor.
Colocar o balcão de medicamentos dentro de uma Americanas não é tarefa simples. “A Americanas teria que se enquadrar na regulamentação de farmácias, incluindo ter um farmacêutico durante todo o horário de funcionamento, o que pode chegar a cinco por loja. Isto pode custar tanto ou até mais que um gerente da Americanas, e a gente sabe que a cultura da empresa é de custo zero,” diz um executivo do setor.
Outras complexidades vão desde a logística — o transporte de medicamentos exige caminhões refrigerados — até detalhes comezinhos, como o fato de várias Lojas Americanas terem carpete, o que é proibido em farmácias. Além disso, no negócio de farmácia, grande parte dos medicamentos são de baixo giro mas importantes para viabilizar a venda, e o cliente frequentemente deixa de finalizar a compra quando falta um item da lista.
Como essa estratégia “Drogabuster” seria de difícil execução, talvez faça mais sentido a controladora da Americanas partir para a aquisição de uma rede de drogarias.
Aí surge outra complexidade: cada farmácia (cada loja) tem uma licença para operar, vinculada ao CNPJ de sua controladora. Se o CNPJ da rede muda — como resultado de uma aquisição — todas as licenças individuais se tornam inválidas, e as Americanas teriam que recomeçar todo o processo. Uma prova desta complexidade é o avanço tímido das redes de supermercados na estratégia de abrir farmácias dentro de suas lojas.
Uma forma de contornar esse problema seria a Americanas pensar numa “incorporação reversa”, ou seja, em vez da Americanas comprar uma rede de drogarias, a operação seria estruturada de forma que a drogaria incorporasse a Americanas, mantendo assim todas as licenças válidas.
Se decidir fazer uma aquisição, a Americanas pode enfrentar concorrência, já que o mercado de drogarias no Brasil tem atraído a atenção de redes internacionais .
Outro varejista nacional, que até então nunca havia pisado numa farmácia, resolveu investir no negócio: a Ultrapar, dona dos postos Ipiranga, no ano passado pagou 1 bilhão de reais pela rede Extrafarma.