A Saraiva, que ontem fechou o dia valendo 130 milhões de reais na Bovespa, acaba de vender sua editora e sistemas de ensino para a Abril Educação por 725 milhões de reais.
A partir de agora, a Saraiva passa a ser uma empresa de varejo puro, dona de uma rede de livrarias que tem 112 lojas, faturamento líquido de 1,8 bilhão de reais e EBITDA de 35 milhões de reais.
A decisão difícil mas acertada da família Saraiva quebra um tabu a respeito da inércia de empresas familiares, ao mesmo tempo em que cria valor relevante para os acionistas em um ativo que o mercado não precificava.
Os investidores sempre viram a Saraiva como uma empresa híbrida, que misturava um negócio que muitos consideram em franca decadência (livrarias físicas), outro de alto crescimento (vendas online) e um terceiro negócio de margens voláteis e dependente de escala (a editora).
Em janeiro, a Saraiva havia mandatado a Goldman Sachs para buscar alternativas. O endividamento do grupo estava em 5,5 vezes sua geração de caixa e sua ação havia implodido no ano passado.
Ao mesmo tempo, os mercados de editoração e sistemas de ensino estão aquecidos, com ativos negociando a múltiplos suculentos.
Como parte deste processo, a companhia conversou com investidores estratégicos, dentro e fora do Brasil, bem como fundos de private equity.
No final, a Saraiva, que negociava ontem a meros 6x EV/EBITDA 2014, vendeu a editora e os sistemas de ensino por 9,2x EV/EBITDA. A Abril Educação, controlada pela Tarpon, passa a deter os selos Saraiva, Atual, Formato, Benvirá e Caramelo, bem como os sistemas de ensino Ético e Agora.
Para a família, trata-se de uma volta às origens. A história da Saraiva começou com uma livraria em São Paulo há exatos 100 anos; a editora veio depois.
Agora capitalizada, a Saraiva tentará voltar ao nível de rentabilidade que tinha em 2012 no negócio de livrarias: um EBITDA de 100 milhões e um retorno sobre o capital investido (ROIC) de 12%.
O primeiro passo já está sendo dado internamente. Eneas Pestana, que se tornou consultor da Saraiva há cerca de três meses e tem 10 pessoas trabalhando dentro da empresa, acabou de apresentar ao conselho de administração um diagnóstico do que tem que ser feito na companhia.
A Abril Educação fará um call com seus investidores ao meio-dia e a Saraiva, às 2:30 da tarde.