Na Bovespa, o comportamento de vários papeis ontem era sintomático do que está acontecendo no BTG.
Depois dos saques sofridos pela gestora do banco na última semana, fundos do BTG começaram a vender papéis em que estavam comprados e a recomprar ações em que estavam vendidos (apostando na queda).
Para operadores, isso ficou claramente à mostra em nomes como Equatorial, Lojas Renner, Cielo, BRF, Cetip, Ultrapar e Ambev, todos grandes posições dos fundos do banco. Houve ‘block trades’ (venda de grandes lotes) em vários destes nomes, que negociaram com volumes bem acima da média, na maioria dos casos.
“Gastei um pouquinho de caixa, mas talvez ainda esteja cedo, porque se houver mais resgates, pode ser que ainda haja mais vendas deste tipo,” diz um gestor.
‘Buy on weakness’
A Equatorial Energia foi um dos papeis liquidados — mas resistiu bem.
Num leilão de uma hora no final do pregão, cerca de 100 milhões de reais em ações da empresa trocaram de mãos. O lote foi ofertado a 33,50, mas o interesse chegou a ser duas vezes maior que a oferta. O leilão saiu a 34,08 reais, e quando o papel voltou a negociar no mercado de balcão, já era indicado a 34,40.
Ainda assim, a ação tem as marcas da prisão de Esteves: negociava acima de 37 reais quando o banqueiro foi preso.
Conspiração
De um senador influente, sobre a aprovação ontem da abertura do processo de impeachment a dias do início do recesso legislativo:
“Este será o recesso da conspiração; os políticos vão conversar muito para se posicionar e ver como ficarão as coisas se houver troca de governo. Ninguém vai assumir sem ter tudo muito conversado antes.”
‘Winter is coming’
As principais votações do processo de impeachment devem ocorrer apenas a partir da segunda metade de fevereiro, quando, pelo andar da carruagem, o País deverá estar vivendo o trimestre mais sombrio da história econômica republicana. O que deve colocar a rua ainda mais contra Dilma.
3 contra 1
Nas últimas semanas, três das maiores indústrias farmacêuticas em atividade no País deixaram de vender a prazo para a BR Pharma, a rede de drogarias controlada pelo BTG. A expectativa é de uma implosão do negócio, que aguarda uma capitalização de 600 milhões de reais do banco.
3 em 1
Com André Esteves preso em Bangu 8, é muito fácil encontrar no mercado quem fale mal do ex-dono (e ainda maior acionista) do BTG. Mas, para um banqueiro de investimentos com uma daquelas salas cravejadas de tombstones, “de toda aquela turma dos Garantias e Pactual, o André era o cara mais completo. Ele era bom de lidar com cliente, bom de trading e bom de política. Já os outros, ou o cara era muito bom de trading e péssimo com gente, ou bom com gente e ruim de trading. O problema é que o André fazia a política tão bem que se animou demais…”
Sem medo da vol
A Bovespa continua às moscas, mas nas últimas duas semanas, a corretora do Morgan Stanley — representativa dos humores do investidor estrangeiro — fez compras líquidas de cerca de 1 bilhão de dólares de ações. Concorrentes acham que os compradores devem ser fundos soberanos e endowments, que adotam uma visão de mais longo prazo sobre o Brasil. O grosso do mercado — hedge funds, fundos domésticos e fundos dedicados — aguarda mais visibilidade no cenário macro e político.
