Um mês depois do CADE barrar sua venda para a Kroton, a Estácio reportou números que chocaram o mercado, fazendo seu valor de mercado subir 15% e atraindo gestores que antes desdenhavam a ação.
No final do pregão, quando o papel já subia 8%, o Valor PRO disse que a Advent, que já teria quase 5% da Estácio, estaria comprando a ação para chegar a 15%-18% do capital, o que faria dela a segunda maior acionista depois do Oppenheimer, que tem 18% da empresa.
A Estácio teve no segundo trimestre a maior geração de caixa operacional de sua história — mesmo levando-se em conta os anos dourados do FIES — e um EBITDA trimestral também recorde. O fluxo de caixa operacional subiu 30% para R$ 170 milhões e o EBITDA comparável, excluindo one-offs, subiu 75% para R$ 261 milhões. A companhia havia aumentado preços em janeiro, num nível próximo ao IGP-M.
Por trás dos números, a Estácio reverteu práticas antigas, redesenhando sua política de descontos para criar uma base de alunos mais sustentável.
“Queríamos um aluno com um tíquete médio adequado, com inadimplência baixa e que não evadisse,” o CEO Pedro Thompson disse agora à noite ao Brazil Journal. “Antes tinha aluno que entrava aqui com quatro meses de graça, e depois começava a ser cobrado. Ficou provado que isso não funciona.”
A margem EBITDA ganhou impressionantes 10,7 pontos percentuais sobre o mesmo trimestre do ano passado, enquanto o faturamento subiu 9,4%.
Além de ser mais restritiva nos descontos agressivos para calouros, a Estácio também melhorou sua relação de alunos por professor — um termo conhecido por ‘ensalamento’; nenhuma empresa do setor divulga essas métricas.
Mas ao privilegiar margem sobre volume, focando na alavancagem operacional, a companhia pagou um preço pela mudança de estratégia: sua captação está em queda há dois trimestres, e a base de alunos, sem crescimento.
O resultado de hoje deve silenciar os críticos do CEO, frequentemente alvejado no mercado por ‘não ser do ramo’ e por ter feito muitas mudanças ao mesmo tempo na estratégia da empresa. Num mundo pós-FIES, Thompson lançou o parcelamento próprio da Estácio — copiando o ‘playbook’ de Rodrigo Galindo na Kroton — e mudou a estratégia de captação apesar do ceticismo do mercado.
Até agora, nenhum gestor brasileiro demonstrou convicção para construir uma posição significativa na Estácio, ainda que isso possa ter mudado a partir de hoje: nexta sexta, a ação negociou mais de sete vezes seu volume médio. A Estácio ficou num limbo existencial por um ano, enquanto aguardava o desfecho de seu casamento com a Kroton no CADE. O capital da empresa é altamente pulverizado, e os maiores acionistas hoje são as gestoras internacionais Oppenheimer, Fidelity, Coronation e o Capital Group.
Ainda que as possibilidades de M&A sejam múltiplas, a Estácio ainda tem um longo dever de casa para conseguir aproximar sua rentabilidade da maior empresa do setor, a Kroton.
Enquanto a margem EBITDA da Estácio é de 28%, a da Kroton é de 42%. Porém, o mix de negócios da Kroton está mais exposto à educação à distância (EAD), um segmento de margens mais suculentas, o que beneficia sua margem.
Neste sentido, uma fusão da Estácio com a Uniasselvi — um ‘pure play’ de EAD controlado pelo Carlyle e Vinci Partners — continua sendo a operação que faz mais sentido para aproximar as margens da Estácio das de sua maior concorrente.