Em meio a uma demanda robusta, a Rumo fechou agora há pouco uma oferta de ações que levantou R$ 2,64 bilhões, dando mais um passo para se transformar da aposta mais arriscada da Cosan naquela potencialmente com maior retorno.
A companhia vendeu 220 milhões de ações a R$ 12 — um desconto de 5% sobre o fechamento de hoje mas 20% acima de onde a ação negociava quando a oferta foi anunciada. (Em 6 de setembro, quando a companhia primeiro aventou a hipótese de uma oferta, a ação fechou a R$ 9,75).
Excluindo a oferta prioritária, a demanda chegou a mais de cinco vezes o tamanho da oferta e, segundo uma fonte próxima à transação, 65% das ações foram alocadas junto a investidores de fundos long-only, que tendem a ter um horizonte de investimento mais longo.
A Cosan, que controla a companhia com uma participação de quase 30%, aproveitou a janela favorável do mercado de capitais brasileiro para equilibrar a estrutura de capital da ferrovia, comprando um seguro para um ano eleitoral no qual a única certeza é a volatilidade.
Os recursos da oferta devem reduzir o endividamento da Rumo de quase 4x sua geração de caixa para abaixo de 3x em dezembro.
Nos EUA, ferrovias como a CSX negociam a 10-11x EV/EBITDA de 2018. Já a Rumo, por ser endividada, negociava até agora com um desconto de cerca de 20%.
Os advogados da tese de investimento defendem que a ação deveria negociar a um prêmio, já que a Rumo tem pela frente mais ganhos de eficiência e mais crescimento de PIB.
A Rumo — cujos trilhos conectam a mais importante região agrícola do Brasil ao Porto de Santos — tem conseguido deixar para trás o passado de performance pífia de sua antecessora na Bolsa.
Enquanto a antiga ALL tinha um viés financeiro focado no corte de custos e na entrega de metas de curto prazo, a Cosan tem operado o negócio com uma lógica mais industrial, focada em investimentos que trarão resultado no médio e longo prazos. O CEO da Rumo, Julio Fontana, fez toda sua carreira no setor ferroviário, e o CEO da Cosan, Marcos Lutz, tem um background em logística.
A Rumo já multiplicou seu valor de mercado por cinco desde que a companhia fez seu primeiro aumento de capital sob a administração da Cosan, em abril do ano passado.
Na época, a companhia viveu um tempestade perfeita: o processo de impeachment ainda estava em tramitação e não era certo que haveria uma mudança de Governo; uma quebra na safra de milho afetou a demanda das trading companies, e um endividamento que estava em torno de 7x com uma Selic acima de 14%.
Dentro da Cosan, flertando com o abismo, o time de executivos de Rubens Ometto concluiu que a única coisa pior que a incerteza seria a certeza — em outras palavras, o impeachment não ser aprovado. A companhia foi conservadora e aceitou fazer o aumento de capital a R$ 2,50, mesmo com a ação negociando acima de R$ 3.
Agora, tendo em vista a incerteza de 2018, a Cosan repete o movimento.
No mês passado, a Cosan Limited — que controla a Cosan — levantou US$ 500 milhões numa emissão de bônus internacional. Cerca de US$ 200 milhões estão sendo usados para acompanhar o aumento de capital na Rumo. Os outros US$ 300 milhões devem ser usados para o refinanciamento de dívida e fortalecer o caixa.
A Rumo, que deve entregar uma geração de caixa de R$ 2,7 bilhões, tem como meta declarada de levar este número a R$ 4,5 bilhões em 2020. Outros projetos, como um trecho ligando o ‘soy country’ de Rondonópolis a Sorriso, poderão demandar outros R$ 7 bilhões em investimento, mas tem o potencial de dobrar o EBITDA da companhia.
O sucesso da Rumo no mercado de capitais vem apesar de negociações intermináveis com o Governo para a renovação da concessão da Malha Paulista, o trecho mais importante da Rumo, que pode destravar mais de R$ 5 bilhões em investimentos.
O contrato da Rumo para a gestão da Malha Paulista vale por mais 11 anos. A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) está propondo renovar antecipadamente o contrato por mais 30 anos em troca de investimentos para aumento de capacidade e mudanças nas regras de acesso a terceiros.
No dia em que a oferta foi aprovada em assembleia, o Ministério Público Federal pediu à ANTT que não renove antecipadamente os contratos de concessão de cinco ferrovias — incluindo a Malha Paulista — sem aval prévio do TCU. Nem este barulho foi capaz de enfraquecer a demanda.