Lázaro de Mello Brandão, um dos nomes mais influentes do sistema financeiro nacional no último meio século, renunciou hoje ao cargo de presidente do conselho de administração do Bradesco, dando início à contagem regressiva para o banco escolher seu novo CEO.
‘Seu Brandão’ — que trabalhou no Bradesco 75 de seus 91 anos — será substituído na presidência do conselho por Luiz Carlos Trabuco, o atual presidente do banco. Carlos Alberto Rodrigues Guilherme, o ‘Coca’, que já era membro do conselho, será seu vice-presidente.
Em março de 2018, na assembleia geral de acionistas, o Bradesco deverá eleger o sucessor de Trabuco.
A renúncia, anunciada depois do fechamento do mercado, marca o final de uma era em que ‘seu Brandão’ transformou a presidência do conselho numa posição simbolicamente tão importante quanto a presidência executiva do banco.
Ao longo das últimas décadas, como a maior figura institucional do Bradesco, seu Brandão recebeu grandes clientes, ministros e presidentes, dava a palavra final em decisões estratégicas e participava de inúmeras reuniões internas, às vezes apenas como ouvinte. “Ser recebido pelo seu Brandão sempre foi sinal de prestígio,” diz um cliente do banco.
Para se compreender a importância do movimento de hoje, é essencial entender que o conselho do Bradesco não é como o conselho de administração de qualquer outra empresa. Os conselheiros do banco dão expediente na sede em Osasco todos os dias, cada um ocupando sua própria mesa na sala da diretoria.
Seu Brandão iniciou sua carreira em 1942 na Casa Bancária Almeida & Cia., a instituição que se transformou, no ano seguinte, no Banco Brasileiro de Descontos S.A. (Bradesco). Passou por todos os escalões da carreira até chegar a presidente, cargo que exerceu de janeiro de 1981 a março de 1999. Em fevereiro de 1990, assumiu a presidência do conselho.
Mal havia secado a tinta da carta de renúncia, as especulações sobre quem será o sucessor começaram. Hoje, parte do mercado trabalha com um suposto favoritismo de Mauricio Minas, o vice-presidente responsável pela tecnologia do banco.
Mas o processo sucessório do banco é conhecido por sua fluidez e imprevisibilidade. No Bradesco, nunca um nome tido como o favorito pela imprensa acabou sendo o confirmado.
Na sucessão do ‘seu Brandão’, Márcio Cypriano, que viria a ser o escolhido, mal era citado.
Segundo um veterano do banco, o processo sucessório interno se assemelha a especulações sobre ministérios durante a transição para um novo governo em Brasília: se um nome é muito cotado, ele acaba sendo preterido.
De toda forma, a aposentadoria de Seu Brandão cria uma certeza: transformará de um destes sete homens no próximo CEO do banco, numa época de desafios estruturais para o setor financeiro e de volatilidade quase garantida no Brasil em virtude da campanha eleitoral do ano que vem.
Os sete vice-presidentes do banco — todos, em tese, com a mesma chance — são: Domingos Figueiredo de Abreu, vp de tesouraria e crédito; Alexandre da Silva Glüher, o ‘chief risk officer’ e relações com investidores; Maurício Machado de Minas, o vp de TI; Marcelo de Araújo Noronha, responsável por toda área de cartões e pelo banco de investimento; André Rodrigues Cano, encarregado do RH; Josué Augusto Pancini, o vp responsável por toda a rede de atendimento e pelo Prime; e Octavio de Lazari Junior, presidente da Bradesco Seguros.
Em 73 anos de história, o Bradesco teve apenas quatro CEOs: Amador Aguiar, que fundou o banco; Brandão, Cypriano e Trabuco. A cadeira de ‘chairman’ teve ainda menos rotatividade: Trabuco será o terceiro a ocupar a posição.
A escolha do próximo CEO se dá num momento em que o Bradesco tem feito apostas controladas numa renovação generacional. Nos últimos anos, o banco que historicamente promoveu a prata da casa tem dado sinais de flexibilidade, com contratações pontuais no mercado.
Na gestão Trabuco, o critério etário — a busca por quadros mais jovens — passou a ter mais relevância, enquanto o critério ‘tempo de casa’ perdeu peso relativo.
Pelo estatuto do banco, o CEO se aposenta aos 65, mas Trabuco, que tem 66, ganhou um ‘waiver’ até 2019. Com os acontecimentos de hoje, este waiver não será exercido inteiramente.