Você sabe que a coisa na velha mídia está mesmo feia quando até Warren Buffett resolve jogar a toalha.
A Berkshire Hathaway anunciou hoje que vai terceirizar a gestão do BH Media Group, seu braço de mídia que abriga 100 produtos editoriais, incluindo 31 jornais diários locais e mais 47 semanais.
Buffett (ainda) não está vendendo os títulos. A Lee Enterprises – uma editora de Iowa que publica 46 diários – vai assumir a administração dos jornais em troca de uma comissão anual de US$ 5 milhões, mais um percentual dos lucros que excederem um benchmark estabelecido pelas duas partes.
Ficaram de fora do negócio: o Buffalo News, em Nova York, e a rede de TV WPLG, de Miami.
O CEO da BH Media, Terry Kroeger – que passou 33 dos seus 56 anos à frente do jornal do coração de Buffett, o Omaha-World Herald – vai renunciar ao cargo.
A Lee espera colocar US$ 50 milhões no bolso até o fim do contrato de cinco anos. As ações da Lee negociadas em Nova York subiram 20% hoje (a empresa vale US$ 164 milhões na Bolsa).
Há sete anos, a Berkshire surpreendeu ao mostrar interesse pela mídia impressa, que está longe de ter algumas premissas básicas da cartilha de Buffett, como previsibilidade, crescimento e baixa necessidade de capital.
A Berkshire comprou o Omaha World-Herald e seis outros jornais locais de Nebraska e de Iowa em 2011, formando a BH Media. No ano seguinte, arrematou 63 publicações da Media General, de Richmond, por US$ 142 milhões.
Foi um dos poucos ‘passion investments’ de Buffett, que foi entregador de jornais quando jovem – nas conferências da Berkshire, até hoje ele promove um concurso de ‘lançamento de jornal a distância’ para celebrar seu passado.
O que pouca gente sabe é que o Oráculo de Omaha já contribuiu também para o Omaha Sun ganhar um Pulitzer em 1973, quando era dono da publicação, ajudando a desmascarar desvios em uma instituição de caridade numa reportagem investigativa. (O jornal foi vendido em 1980 e parou de circular três anos depois).
Buffett apostou nos jornais das cidades pequenas, acreditando que eles seriam mais resilientes por cobrir notícias imprescindíveis mas que não interessariam a publicações nacionais.
“Nosso objetivo é manter nosso jornais cheios de conteúdo de interesse dos nossos leitores e ser pagos de forma apropriada por quem acredita que somos úteis, quer eles leiam o produto impresso ou pela internet”, resumiu numa carta aos acionistas em 2013.
Não deu muito certo. A BH Media vem fazendo uma série de demissões – o número de funcionários passou de 4.200 para 3.700 no ano passado. Na última conferência da Berkshire, em maio, o Oráculo reconheceu que sua bússola não estava funcionando bem no setor: “É difícil ver como o produto impresso vai sobreviver ao longo do tempo”, lamentou.
Agora, ele aposta que só a união pode fazer a força.
Outro bilionário, Jeff Bezos, já mostrou que consegue fazer dinheiro até no jornalismo. Neste post, ele conta as razões por trás do renascimento do The Washington Post.