A CloudWalk, uma startup ainda pouco conhecida, acaba de lançar uma bomba no mercado de maquininhas.
Num mercado em que disruptores como Stone e PagSeguro apostam cada vez mais em serviços agregados para manter as margens, a proposta de valor da CloudWalk é preço.
Com uma maquininha chamada InfinitePay, a companhia fará antecipação de recebíveis — um negócio que chega a representar metade do resultado das adquirentes — a preços mais baixos, que chegam a ser até um quinto da concorrência no parcelado.
Sua receita virá principalmente de uma taxa de processamento de 0,4% por transação, contra um ‘take rate’ de 1,5% a 2% das adquirentes tradicionais.
A diferença de preço é brutal.
Nas transações à vista no cartão, a taxa é de 2,97%, contra quase 5% nas concorrentes. Para antecipar o pagamento de transações feitas em três parcelas para dois dias, a taxa é de 3,94%, contra quase 9% na Stone e 11,5% na Cielo, segundo levantamento feito pela própria companhia. Na pré-pagamento do parcelado em 12 vezes, a InfinitePay cobrará 7,45%, frente a cerca de 25% e 40% das rivais, respectivamente. (Os números das concorrentes envolvem as taxas cheias, que podem ser menores conforme o volume transacionado pelo cliente.)
As maquininhas — voltadas principalmente para pequenas e médias empresas — serão vendidas pela Internet por 12 vezes de R$ 28,90.
“O mercado brasileiro hoje é uma agiotagem legalizada para o lojista e a gente que ‘disruptar’ esse modelo”, diz o fundador e CEO Luís Silva. “Depois do duopólio Cielo-Redecard, veio uma primeira geração de disruptores encabeçada pela GetNet, e depois a segunda geração com Stone e PagSeguro. Nós somos a terceira.”
A CloudWalk tem diferenciais tecnológicos importantes. Seus sistemas foram desenvolvidos organicamente (em vez da integração de sistemas que aumenta custos e atrasa o go-to-market dos concorrentes), são 100% baseados na nuvem e usam tecnologias blockchain e inteligência artificial, o que reduz drasticamente a necessidade de mão de obra e automatiza processos como compliance, risco e tesouraria. Resultado: segundo a empresa, seu custo de processamento por transação é 35 vezes menor do que de concorrentes de capital aberto como Stone, PagSeguro e Cielo.
O funding para a operação vem do Smartbank, que é acionista do negócio. Trata-se do antigo banco Intercap, uma subsidiária do Indusval que foi investida pela gestora americana de venture capital The Hive e vinha funcionando em ‘stealth mode’.
Segundo Luís, o Smartbank pode usar uma linha de crédito de até R$ 6 bilhões para financiar os pré-pagamentos.
Para fontes do mercado de meios de pagamento, o caminho da CloudWalk não será tão fácil: sua capacidade de escalar o negócio dependerá da disponibilidade do funding, e a distribuição das maquininhas pelo canal digital consumirá o proverbial caminhão de dinheiro.
Para lidar com o último desafio, a Cloudwalk está no meio de uma rodada de captação de US$ 100 milhões que, segundo Luís, deve avaliar a companhia em mais de US$ 1 bilhão. Os recursos serão usados principalmente em marketing.
Nascido em Franca, no interior de São Paulo, o fundador da CloudWalk é um autodidata que começou a programar aos 15 anos e vem trabalhando silenciosamente para criar seu filhote de unicórnio.
Entre os investidores estão o Plug and Play, um fundo de VC de São Francisco que tem no portfólio empresas como PayPal e DropBox e garantiu o seed capital. No ano passado, a Cloudwalk levantou uma rodada Series A de R$ 24 milhões com o SmartBank, o próprio The Hive e a Fidelity National Information Services (FIS), uma das maiores provedoras mundiais de tecnologia bancária e de pagamentos. (A Fidelity vale US$ 40 bilhões na Bolsa de Nova York e não tem ligação com a corretora e gestora de mesmo nome).
James Aviles, um executivo do Vale do Silício que fundou a Merchant e-Solutions — vendida para a Cielo por US$ 670 milhões em 2012 — é mentor de Luís e está no conselho da empresa.
No Brasil, a Cloudwalk é a primeira adquirente a assumir publicamente que seu negócio é uma commodity. Com isso, concentrou seus esforços numa estrutura de custos enxuta, que permite lucro mesmo com margens apertadas.
São apenas 40 funcionários, número que deve dobrar com o novo aporte, voltado para fazer o ‘go to market’ do produto. A meta é chegar a 100 mil maquininhas até a metade do ano que vem — um terço do que a Stone tem na rua.
Para Luís, as diversas entrantes no setor de meios de pagamento ainda não resolveram o verdadeiro problema do cliente. “O mercado brasileiro ainda não está pronto para a realidade de super tecnologia, software, CRM e etc, atrelado à maquininha, ele é carente de boas taxas”, diz. “Essa história de software é um pitch bonito, mas na verdade é um biombo para continuar cobrando caro.”
O fundador da Cloudwalk tem 35 anos e já coleciona uma série de startups no currículo.
Sua primeira empresa, a Plano B, nasceu em 2005 com sistemas de autorizações em meios de pagamento para grandes bancos. Mais tarde, criou outras empresas no setor de pagamentos e saúde até lançar a CloudWalk em 2013.
Até agora, a CloudWalk apenas construía interfaces para POS, operando como um fornecedor de tecnologia para esses players e se remunerando com um fee por transação. Com clientes como SumUp, BeBlue e a própria Stone, a CloudWalk processou cerca de R$ 4,2 bilhões ao longo dos últimos 18 meses.
Apesar da operação ser rentável, Luís percebeu que estava deixando dinheiro na mesa e decidiu deixar de ser um provedor de soluções para se tornar um adquirente.
O que garante que o novo disruptor não será ‘disruptado’?
“Daqui a um ano e meio, quando aparecer o próximo empreendedor, a gente já vai ter lançado a próxima revolução”, diz. “Começamos com a maquininha sabendo que vamos aposentá-la. Hoje já temos pronta tecnologias para pagamento móvel, só estamos esperando a hora certa para lançar”.