Com o Buscopan, a Hypera complementa sua oferta de medicamentos anticólica, onde a companhia já atua com a marca Atroveran. O Buscopan é a marca líder no segmento, e a família Buscopan e Buscofem são a segunda maior franquia no mercado de medicamentos isentos de prescrição (OTC) no Brasil.
No mundo todo, as farmacêuticas globais estão segregando seus negócios de OTC para desinvestimento ou IPOs. GlaxoSmithKline, Pfizer e Sanofi já seguiram este caminho.
“O OTC tem deixado de ser relevante porque cresce pouco, mas é um cash cow,” diz o analista de uma gestora. “É um business sem graça, mas como é um fluxo de caixa muito previsível, as companhias conseguem vender a um múltiplo alto para reinvestir os recursos em pesquisa e desenvolvimento de moléculas complexas, principalmente na oncologia.”

Como a Hypera tem um dos canais de distribuição mais capilares da indústria, analistas estimam que as sinergias sejam significativas e o Buscopan adicione até R$ 150 milhões de lucro à empresa por ano, ou 12% dos R$ 1,2 bilhão que a Hypera deve lucrar este ano. “Eles só tem que plugar o produto no canal, talvez passar a fabricar em Goiás, onde a empresa tem incentivos fiscais, e não vai ter despesa administrativa nenhuma.”
Para um veterano da indústria, o Buscopan melhora a margem, mas não traz crescimento. “O Buscopan é um produto consolidado, que não cresce, assim como a maioria das marcas OTC da Hypera. Se você quiser crescer, tem que investir em marketing, força de vendas, e talvez você consiga. Mas se você não fizer nada, ele só tende a melhorar a margem.”

A transação de hoje pode ser oportunística ou indicar que o controlador da Hypera, João Alves de Queiroz Filho, o “Júnior”, está de volta ao jogo do M&A — o playbook que usou para construir a companhia, dona de marcas centenárias como Maracujina, Engov e Biotônico Fontoura — depois de dois anos turbulentos de desaceleração de vendas, aumento da concorrência e investigações policiais.
Mas o negócio também vem num momento em que players como a Cimed conquistam mais espaço, lançando antigripais e vitaminas que competem com a Hypera. [Somados, os antigripais Coristina D e Benegripe e o vitamínico Addera D respondem por 40% do negócio de OTC da Hypera, que faz 36% do seu faturamento neste mercado.]