A BRF vai investir R$ 55 bilhões nos próximos 10 anos para triplicar seu faturamento, dobrando sua aposta em produtos de valor agregado e prometendo fazer tudo isso enquanto mantém seu endividamento sob controle.
O anúncio do plano estratégico está sendo feito agora de manhã numa teleconferência com investidores.
A dona das marcas Sadia e Perdigão disse que pretende botar capital em cinco grandes avenidas de crescimento — refeições prontas, carne suína, ração para pets, produtos à base de plantas e internacionalização — enquanto mantém sua alavancagem abaixo de 3x EBITDA.
O CEO Lorival Luz indicou que o grosso dos investimentos acontecerá nos primeiros anos, mas que, ainda assim, a companhia pretende voltar a pagar dividendos nos próximos dois anos.
O objetivo do plano estratégico “Visão 2030” é atingir uma receita líquida de R$ 100 bilhões e EBITDA acima de R$ 15 bilhões. Este ano, a empresa deve fechar com receita de R$ 37 bi e EBITDA de R$ 5 bi.
A BRF — que hoje obtem 50% de sua receita com produtos processados — quer aumentar essa participação para mais de 70% em 10 anos, o que reduziria a volatilidade de seu negócio e ajudaria a expandir seu múltiplo na Bolsa, o CEO disse ao Brazil Journal.
A companhia disse que fez um amplo estudo com a McKinsey nos últimos nove meses para entender as principais tendências e hábitos do consumidor brasileiro. Abaixo, a lógica e os números que guiam cada aposta.
Refeições prontas (ready meals)
A BRF acredita que este mercado deve quadruplicar no Brasil até 2030, saindo de R$ 3,5 bilhões para R$ 16 bi. A companhia já tem um portfólio de lasanhas, pizzas, mac’n cheese e hot pockets, mas pretende investir pesado em novos SKUs.
Suínos
Conhecida por seus salames, presuntos e mortadelas, a BRF acha que o mercado interno de carne suína pode quintuplicar em 10 anos, atingindo R$ 23 bi.
O dever de casa: educar o consumidor para as delícias da pururuca e do toicinho, num País onde o preconceito histórico contra essa proteína a afastou da cozinha de muitas famílias.
“Tem um trabalho de desmistificação a ser feito. Queremos liderar esse ‘aculturamento’ e abocanhar a maior parte do crescimento deste mercado,” disse Lorival.
O consumo de suínos no Brasil é de 15,8 quilos/habitante/ano. Nos EUA, é de 30kg; na Europa, 38kg.
Ração para pets
A BRF já é um dos maiores produtores de ração animal do Brasil, mas vende a maior parte para a indústria.
A companhia já tem acesso ao varejo tradicional (GPA, Carrefour), e agora vai desenhar uma estratégia para acessar tanto o varejo especializado (Petz, Cobasi) quanto o técnico (como veterinários e donos de canil).
Para isso, a BRF acaba de contratar Vladmir Maganhoto, o ex-CEO da Royal Canin no Brasil.
O consumo de ração pet cresce em média 12% ao ano, e o Brasil já é o segundo maior mercado do mundo, atrás apenas dos EUA.
A BRF hoje tem duas marcas: a Balance (uma marca premium vendida no varejo) e a Güd (uma marca super premium disponível apenas pela internet).
A BRF quer se tornar a líder ou vice-líder de um mercado hoje dominado pela Mars (dona de Royal Canin); a Nestlé, dona da Purina; e a PremieR, da família Maluf.
‘Plant-based meats’ (substitutos de carne)
A companhia vai continuar construindo sua presença nos produtos plant-based, mas Lorival destacou a incerteza que cerca o tamanho da oportunidade de mercado.
“Há estimativas que apontam para um mercado de R$ 13 bi em 10 anos, mas pode ser metade disso ou pode ser o dobro. Vai depender da penetração e da capacidade de popularizar esses produtos,” disse o CEO. “Uma coisa são as pessoas de mais alta renda falando do assunto, mas por enquanto o brasileiro médio não está engajado.”
No início do ano, a BRF lançou sua linha de produtos plant-based, a Veg&Tal, que inclui hambúrguer, bacon e nuggets, além de uma torta feita de massa de iogurte com versão integral.
Internacionalização
Essa talvez seja a estratégia que mais se preste a aquisições. A ideia da companhia é ser dona de marcas em grandes mercados como EUA e Europa.
O anúncio do Visão 2030 marca o fim de dois anos de um turnaround em que a BRF aumentou sua margem EBITDA de 7,4% para 12,9%, reduziu a alavancagem de 6,7x para 2,9x e, com a recente emissão de um bond de US$ 800 milhões de 30 anos, aumentou o prazo médio de sua dívida de 3,4 para 9,5 anos.