Por quase uma década, Carlos Laboy fez relatórios criticando a cultura e a execução da Ambev.
Hoje no HSBC — mas com quase 20 anos de mercado e passagens pela Bear Sterns e Credit Suisse — Laboy dizia que a cultura da cervejaria ‘não era centrada no consumidor’, o marketing era fraco, e a execução no ponto de venda deixava a desejar — dentre outras falhas que mais parecem uma lista de lavanderia.
Assim, chamou a atenção ontem quando Laboy hasteou a bandeira branca e colou um “BUY” na ação da Ambev, dando um voto de confiança ao CEO Jean Jereissati.
No relatório, Laboy disse que a combinação de um novo management com novas ideias, ferramentas digitais de ponta e melhorias no modelo de distribuição podem ajudar a Ambev a finalmente endereçar os problemas da última década.
O analista nota que o negócio D2C da Ambev está crescendo de forma relevante — o que tende a melhorar as margens da empresa, que hoje tem um mix de canais muito concentrado em supermercados.
A Ambev também está apostando pesado na tecnologia para aprimorar a forma como vende para seus 800 mil clientes. A empresa já está transicionando seu sistema de pedidos online para o Bees, uma plataforma robusta que hospedará um marketplace, permitindo que os donos de bares comprem mais do que cerveja.
Laboy também aposta numa aproximação da Ambev com o Sistema Coca-Cola, a exemplo de acordos de distribuição que já aconteceram no Chile e Colômbia.
“No Brasil, a Ambev também poderia repassar a distribuição de diversas marcas para o sistema Coca-Cola,” escreveu o analista.
Laboy aumentou seu preço-alvo de R$ 13 para R$ 16,5 — um upside de 10% a partir do preço atual. Mas algumas opcionalidades — como uma melhor execução no digital e um acordo de distribuição no Brasil com a Coca-Cola — poderiam aumentar esse upside para 22% e 36%, respectivamente.
Laboy disse ao Brazil Journal que a Ambev sofreu nos últimos anos porque seus controladores estavam num “deep denial” e achavam que a cultura “não precisava evoluir, que era perfeita, intocável, um manual sacrossanto e impermeável ao tempo.”
Laboy nota que o valor de mercado da Ambev em dólar está no mesmo patamar de 2009, enquanto as margens estão nos mesmos níveis do vale de 2006.
“Essa década perdida deveria mostrar aos controladores que a cultura, reverenciada por tanto tempo, precisa mudar.”