Com a bolsa brasileira parecendo um carro velho — quebrando a cada 100 km — talvez seja mais que apropriado que a Fortbras, a líder no setor de autopeças do País, esteja preparando seu IPO para o início do ano que vem, seis anos depois da Advent assumir o controle da varejista de autopeças. 

A empresa já começou a se reunir com  investidores nas últimas semanas, sinalizando uma oferta entre R$ 1,5 bilhão e R$ 2 bilhões, mas ainda sem falar em múltiplos.

Parte dos recursos vai financiar o crescimento orgânico e via aquisições. Outra parte será a saída parcial da Advent, que tem 73% da Fortbras e deverá se manter no controle após a operação.

Os coordenadores são BTG Pactual, Citigroup e Bank of America. 

Quando a Advent entrou no negócio em 2016, o Brasil enfrentava turbulência na política e uma recessão na economia, e a gestora buscava um investimento que pudesse ser rentável mesmo num cenário de crise: encontrou o setor de autopeças, ainda muito fragmentado no Brasil. 

Além disso, a gestora ficou encorajada ao estudar o mercado americano, onde este setor andou bem mesmo na crise de 2008. 

O negócio da Fortbras é vender peças para a manutenção de seminovos — carros com mais de três anos de uso e que estão fora do período de garantia das montadoras. 

Quando o País cresce e a venda de veículos novos sobe, o impacto para o negócio da Fortbras é positivo porque, mais à frente, essa frota envelhecerá, exigindo manutenção. Mas quando a economia piora e a venda de carros novos cai, o veículo usado acaba precisando de manutenção por mais tempo — tornando a Fortbras resiliente. 

Por mais que os donos adiem um reparo, uma hora todo carro velho vai precisar trocar o pneu, o óleo, o amortecedor ou a pastilha de freio para continuar rodando.  

O principal cliente da Forbras são os mecânicos — mais de 120 mil oficinas no País. No Brasil, o cliente costuma deixar o carro na oficina e recebe um orçamento do custo do serviço e das peças. (Já o cliente optar por ele mesmo fazer a compra das peças é algo menos frequente.) 

Como é o mecânico quem faz a compra, ele acaba não sendo tão sensível a preço. Segundo o relato da empresa aos investidores, nesse segmento, diferentemente de todos os ramos do varejo, o diferencial não é preço, mas a rapidez na entrega das peças, já que o dono do carro quer ter o automóvel de volta o quanto antes e o mecânico precisa abrir espaço na oficina. 

O Brasil hoje tem 43 milhões de carros seminovos, uma frota que cresceu 7% ao ano nos últimos dez anos.  A idade média da frota do país está em 10,2 anos hoje — uma década atrás, era de 8,2 anos. 

A cadeia de autopeças no Brasil ainda conta com muitos distribuidores. O plano da Advent para a Fortbras é consolidar o mercado para ter cada vez mais escala e poder de negociação, comprando ela mesma direto da indústria. Assim, ela elimina o distribuidor da cadeia, garante boas margens e preços menores na prateleira. 

Quando a Advent entrou na Fortbras, que atuava no Sul do país, ela tinha 14 unidades e faturava R$ 400 milhões. Hoje, com o crescimento orgânico e aquisições no interior de São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo e Rondônia, ela soma 165 unidades e faturamento próximo a R$ 2 bilhões. 

Mas, num retrato da pulverização do setor, esses números representam apenas 2% das vendas e 0,5% das lojas. 

Analistas que acompanharam as primeiras apresentações agora tentam entender melhor o setor — e a concorrência. 

A americana Autozone, que adotou a mesma estratégia de consolidação, é uma das líderes do mercado nos EUA, com 6.500 lojas e um valor de mercado de US$ 37 bilhões. 

A empresa tem 50 lojas no Brasil, mas seu modelo é mais focado no dono do carro, com megalojas seguindo o conceito ‘do it yourself’. 

 

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