Nem mesmo os nichos mais ‘hot’ da nova economia estão escapando de um mercado de IPO brutal.
A Infracommerce — cujo negócio viabiliza os players de ecommerce, que continuam voando — cancelou sua oferta de R$ 2 bilhões mesmo depois de cortar sua faixa de preço de R$ 22-28 para R$ 18, um desconto de 18% que colocaria o valuation em 8,4 vezes EV/vendas para 2021.
Era quase meia-noite de ontem quando o Itaú BBA, líder da oferta, disse que estava suspendendo a oferta “dadas as condições de mercado.”
A Bionexo — cujo software conecta hospitais e clínicas com fornecedores de suprimentos médicos — também está adiando seu IPO, citando um mercado em que o investidor internacional está ausente e adiando seus planos de se tornar a primeira healthtech listada na América Latina, pessoas a par do assunto disseram ao Brazil Journal.
Também ontem à noite, a Privalia — o maior outlet online do País — disse à CVM que está adiando sua oferta.
Os adiamentos e suspensões, que já haviam atingido inúmeras empresas nas últimas semanas, sugerem que a ‘janela de abril’ do mercado de IPOs está fechada, restando agora apenas a oferta do ModalMais, que deve ser precificada hoje e que também cortou sua faixa de preço.
Ontem, a Caixa Seguridade conseguiu atravessar a arrebentação amputando sua ambição de valuation de R$ 50-60 bilhões para R$ 29 bilhões — e só depois que o CEO Pedro Guimarães colocou toda a rede de agências da Caixa a serviço da oferta. A Boa Safra Sementes vingou, mas no low da faixa.
A Bionexo pretendia levantar R$ 500 milhões na oferta primária e pelo menos R$ 300 milhões numa secundária, buscando um valuation de 8-10x a receita estimada para este ano — em linha com múltiplos das empresas globais de SaaS, mas que acabou se revelando pedir muito para o mercado brasileiro neste momento.
Segundo uma fonte próxima à companhia, “a operação teve tração e engajamento, mas o mercado piorou muito no primário e estrangeiro evaporou.”
O adiamento vem apesar de um momento operacional que viu a companhia postar quase 30% de crescimento orgânico no primeiro trimestre, o melhor de sua história.
Nos próximos dias, os controladores devem optar por listar a companhia na Bolsa — ainda que com zero free float — para aproveitar o trabalho regulatório que já foi feito e ficar prontos para uma oferta em esforços restritos quando o mercado melhorar.
Os maiores acionistas da Bionexo são a Prisma Capital, o Temasek e o fundador, Mauricio de Lazzari Barbosa.
Os coordenadores eram Itaú BBA (líder), BTG Pactual, UBS BB e Bank of America.