O calorão fora de época de setembro, com temperaturas já nas alturas no início da primavera, castigou as galinhas poedeiras, derrubando a quantidade e a qualidade dos ovos.
O estresse térmico, como é chamada essa situação, faz as aves beberem mais água e comerem menos ração. A falta de apetite reduz os nutrientes ingeridos, e as galinhas põem ovos com cascas mais frágeis e peso menor.
A culpa, em boa parte, é do El Niño, que promete ser um dos mais intensos dos últimos anos. De acordo com os meteorologistas, há uma grande probabilidade do fenômeno ganhar força até o fim do ano. Na verdade, este pode ser o El Niño mais potente desde o ‘Super El Niño’ de 2015 e 2016, quando a temperatura das águas chegou a ficar 4ºC acima de sua média histórica em algumas regiões.
O fenômeno climático deverá atingir seu ápice entre novembro e dezembro, de acordo com os modelos do da agência americana National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), e seus efeitos poderão se estender até março de 2024.
Bem, de volta às galinhas.
As pobres poedeiras também são filhas de Deus, e como tal, sensíveis às oscilações climáticas – trabalham melhor com os termômetros entre 18ºC e 24ºC; acima disso, os ovos minguam.
Cada ovo grande pesa entre 55 e 59 gramas. O estresse térmico pode levar a uma perda de até 4 gramas – e o ovo acaba sendo rebaixado para uma categoria inferior na classificação.
Para os produtores, há um prejuízo adicional, porque os ovos mais frágeis, além de menor e de pior qualidade, não podem ser armazenados por muito tempo. Precisam chegar mais rápido ao mercado, derrubando o preço, como ocorreu no quente mês passado. (O valor da dúzia caiu até 8% no atacado.)
“Em setembro, a necessidade de escoar a produção devido ao calor extremo manteve os preços em patamares mais baixos. No entanto, essa tendência de preços mais baixos foi revertida em outubro,” disse Juliana Ferraz, analista do mercado de ovos do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP.
No curto prazo, o efeito nos preços foi de baixa, mas na sequência, o calorão ajudou a empurrar os preços de volta para cima. O estresse térmico provocou o aumento da mortalidade de aves, reduzindo a oferta.
“Com a menor disponibilidade de ovos, os preços subiram, especialmente na primeira metade do mês,” disse Juliana.
Os maiores produtores têm se preparado para enfrentar a mudança do clima. Nas granjas climatizadas, ventiladores e exaustores mantêm a temperatura dentro dos padrões considerados razoáveis pelas galinhas.
“O sol pode estar castigando lá fora, mas dentro do galpão o estresse da ave fica muito atenuado,” disse Leandro Pinto (sem piadas, por favor), o fundador e chairman da Mantiqueira Brasil, a maior produtora de ovos do País, com 16,5 milhões de aves.
Segundo Leandro, o custo da energia está relativamente baixo. Todas as unidades da Mantiqueira são climatizadas, com eletricidade adquirida no mercado livre. “É um investimento que vale a pena, porque reduz a mortalidade e aumenta a produtividade.”
Nos dias mais quentes, nem mesmo as galinhas livres deixam o bem bom da refrigeração. Preferem ficar nos galpões em vez de passear na área externa.